A anciã

Tem vez que sinto que é crime envelhecer

Ver os cabelos virar neve

Se pode

Te podam

Mas não se deve

Cambalear

Ninguém se atreve

Em defender

A anciã

Na sua ânsia

Sua sede

De querer sobreviver

Dormir na torta rede

Atropelando-se nas pernas

Por entre os passos

À mercê

De muito falso abraço

Com sua arte em câmara lenta

Sua voz ríspida igual vinil arranhado

Nem pense que você

Jovem pra sempre vai ficar

Porque também se lá chegar

Caduco poderá estar

Com rugas

Com osteoporose

Memória falha

A vista o vulto apalpando

O corpo todo doendo

O medo dos gritos da rua

Tudo morrendo

As cores descoloridas

E o mundo sem vida

Pouco sabor na comida

Falta de sexo

Ficando "p"

Dinheiro escasso

Fugindo do mormaço

Apagando de cansaço

Olhando a TV

Poucos a dar ouvidos

Descrente de teus conselhos

A não querer tua presença

Repugnando o teu cheiro

Tolerando teus gases flácidos

Tua sonolência constante

Com impaciência

No auge da demência

Que te devora

Enquanto choras

E avançam as horas

Carlinhos real

24/05/2022

Carlinhos Real
Enviado por Carlinhos Real em 24/05/2022
Reeditado em 24/05/2022
Código do texto: T7522953
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