SÉCULO XXI
Um grito de dor não tem cor
São correntes que juntam as mãos
Pés descalços que levam o andor
Santo de barro pra qualquer pagão
O escárnio que fazia rir
Na anedota inocente de horror
A piada que agora entendi:
Um descaso com a história de dor
O sorriso no rosto sem cor
Não pertence a nenhuma nação
E do olho que nasce incolor
Gota d’água de um coração
Um grito de dor não tem cor
São correntes que juntam as mãos
Pés descalços que levam o andor
Santo de barro pra qualquer pagão
Casa grande de pedra urbana
Quem tem pele escura é negão
Nas senzalas favelas humanas
Descendentes da escravidão
Assinada por mão feminina
O início da libertação
Aguardando ansiosos ainda
O começo da abolição
Um grito de dor não tem cor
São correntes que juntam as mãos
Pés descalços que levam o andor
Santo de barro pra qualquer pagão
Toda alma volta sem cor
No caminho da criação
Braços dados com o Redentor
Várias vozes numa canção
Um grito de dor não tem cor
E da boca que vem tanto faz
Toda lágrima cai incolor
Ser humano por dentro é igual
Um grito de dor não tem cor
E da boca que vem tanto faz
Toda lágrima cai incolor
Ser humano por dentro é igual