Para Mim

Brilhei meus sapatos à luz da rua

sem lua,

apenas à luz

das luminárias frias,

de fria

luz.

Brilhei meus pés. Chovia.

Pingos a brincar e molhar a roupa

e molhar o rosto

e molhar os pés,

brilhar também, eu ali, opaco.

Na penumbra dos meus sentimentos

sujei os pés, na mole lama do chão,

da noite, sem... desejar

brincar,

ou sujar, ou sujar-me e opaco,

restar.

Havia tanto frio em mim,

havia tanta lama, enfim,

que mais que o corpo...

e os pés, rosto e mãos,

embarrou minh'alma...

Quando abriste a porta

àquela noite

e me saíste

de ti, afundei,

pouco a pouco,

até o pescoço,

até faltar o ar. Sufoquei!

Mas um soluço fez chorar,

noutro soluço o respirar e não sucumbi.

Pensei morrer, na mesma

noite, sem ver a lua, última vez. Pensei!

Mas do soluço que salvou

no mesmo instante em que a lua soluçou... recobrei toda razão

e caminhei de volta

para mim.

fabio fernandes
Enviado por fabio fernandes em 24/08/2021
Código do texto: T7327675
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