Para Mim
Brilhei meus sapatos à luz da rua
sem lua,
apenas à luz
das luminárias frias,
de fria
luz.
Brilhei meus pés. Chovia.
Pingos a brincar e molhar a roupa
e molhar o rosto
e molhar os pés,
brilhar também, eu ali, opaco.
Na penumbra dos meus sentimentos
sujei os pés, na mole lama do chão,
da noite, sem... desejar
brincar,
ou sujar, ou sujar-me e opaco,
restar.
Havia tanto frio em mim,
havia tanta lama, enfim,
que mais que o corpo...
e os pés, rosto e mãos,
embarrou minh'alma...
Quando abriste a porta
àquela noite
e me saíste
de ti, afundei,
pouco a pouco,
até o pescoço,
até faltar o ar. Sufoquei!
Mas um soluço fez chorar,
noutro soluço o respirar e não sucumbi.
Pensei morrer, na mesma
noite, sem ver a lua, última vez. Pensei!
Mas do soluço que salvou
no mesmo instante em que a lua soluçou... recobrei toda razão
e caminhei de volta
para mim.