Estação
O nome dessa música é Estação, é autobiográfica, baseada em fatos reais.
Eu morava ao lado da estação na minha adolescência, bem em frente ao Colégio Regina Pácis, atrás do censório (não sei se é assim que se escreve).
Os meus pais bebiam excessivamente e brigavam muito. Por causa desse desajuste familiar a gente era obrigado a dormir na linha do trem, bem ao lado onde hoje é o teatro Rosa Maraes.
Como eu sempre tive dificuldade em dormir a noite e sonhava em tirar a minha mãe daquela situação, eu ia para calçada da estação e aproveitava a luz para estudar.
Lia um pouco e sonhava muito. Às vezes eu escrevia para alguém, não sei exatamente pra quem, mas eu sempre rasgava, pois eu era muito tímido e inseguro. Escrevia como se fosse um pedido de socorro, era como se eu estivesse conversando com alguém ou comigo mesmo. Às vezes nem escrevia, só ruminava muito aquele assunto. Era uma ânsia em querer resolver aqueles problemas familiares. Aquilo me incomodava demais, aquele sofrimento da minha família. Graças a Deus que eu estudei e trabalhei a vida toda, nunca usei drogas nem bebidas alcoólicas, sempre tive Deus no coração.
ESTAÇÃO
Durante o dia
A rotina de praxe
Normalmente transcorria.
No final da tarde
O Zezinho corria
Com agilidade
A porteira do TREM abria.
No início da noite
Para lá e para cá
Alegremente as pessoas
Em sua calçada transitavam
Sua localização privilegiada
Entre o Censório
E a praça dos pirulitos
Por demais ajudava.
Nesta estação
Deitou o trilho o progresso
Eu me deitei e deitei meu coração
E fiz o primeiro verso
Durante a madrugada
Quando todos os passageiros
Já tinham embarcado
Eu desembarcava sozinho
No silêncio da cidade
E a luz da estação eu aproveitava
Para estudar.
Pois às vezes
O professor mal remunerado
Pelo estado desconsiderado
Com profundo desconforto
Planejando parada breve
Com razão estava em greve
E na minha casa
Não havia paralisação
Pense numa vida de cão
Era sempre uma bagunça
Luz adequada?
AVE MARÍA!!!
Todos gritavam
Ninguém se entendia
Às vezes eu lia na estação
E dormiam meus irmãos
Deitados na linha do trem
Sonhavam que dormiam bem
O chão era o colchão
O dormente o travesseiro
Onde eles encostavam as faces
Em frente ao Regina Pácis
Próximo a ponte de ferro
Mais um grito, mais um berro.
O que tinha dentro do cargueiro
Em saber nunca tive a curiosidade
O que tinha dentro do peito
Era um sonho guerreiro
Já naquela idade
A noite quase não andava
O cargueiro caminhava lento
E eu pensativo
Vendo os livros no relento.
A noite
O silêncio
A luz
O vagão
Foram meus colegas
De versos diversos.
Parado nesta estação
Viajei muito em cada vagão
Embarquei, desembarquei,
Jamais me droguei
O meu despertador
Era um senhor casmurro
Que ia para praça da prefeitura
Vender chá de burro
Quando o dia amanhecia
Eu ia para casa
E a rotina de praxe
No meu lar
E na estação recomeçava.
O inverno sem chuva chegava
Outro verão
Outros verão
Mais uma viagem
Na mesma estação.