Jesse Bosket
Era uma linda e fria noite de lua-cheia,
E eu cruzava alucinado aquela estrada sinistra
Estranhas sombras retorcidas saudavam minha passagem.
O velho garanhão negro corria como vento
Aquela sensação maravilhosa a tomar conta do meu corpo,
Parecia que nada seria capaz de nos parar.
Minhas gargalhadas insanas cortavam o silêncio sagrado da noite,
Jesse Bosket voltava orgulhoso de mais um trabalho bem feito
Atrás de mim uma cidade em chamas chorava clamando por vingança.
Aquela não era a vida que minha pobre mãe havia sonhado para mim,
Mas a dama da sorte acabou me obrigando a fazer uma escolha,
Três tiros no peito de um padrasto bêbado foi a melhor coisa que já fiz.
Ranchos em chamas, sacos de ouro e dezenas de cavalos roubados,
Promessas de vingança e centenas de maldições proferidas
Era uma vida intensa e cheia de incertezas,
Mas meu espirito rebelde não conseguia imaginar nada melhor,
Quando eu finalmente tomei gosto pela coisa,
Foi muito fácil seduzir e deflorar a filha do reverendo...
Por onde quer que eu andasse, as pessoas contavam lendas sobre mim
Alguns diziam que eu era o próprio filho de satã,
E que muitos homens da lei tremiam ao simplesmente ouvir o meu nome...
Ainda assim minha mãe morreu acreditando,
Que eu ainda podia mudar e me tornar uma pessoa melhor.
Realmente aquela não era uma vida da qual se orgulhar,
Ao contrário do que muitos pensavam, os dissabores sobrepujavam as glórias
E entre idas e vindas, enterrei mais amigos do que pude contar.
Um bom whisky e uma bela moça ás vezes traziam algum alívio,
Mas havia noites em que eu acordava ouvindo o barulho dos tiros.
Quantos órfãos e viúvas eu já tinha deixado para trás,
Também não consigo contar...
O estranho é que eu nunca havia parado para pensar no que tinha me tornado,
Foi depois que minha vista começou a escurecer
Que de repente tudo aquilo começou a voltar
Eu também comecei a sentir algo quente e húmido ao meu lado,
Num momento de distração, algum bastardo deve ter acertado.
Continuamos a varar a noite em busca de um lugar para se esconder,
Mas não pude mais aguentar a dor,
E num cume de frente para uma linda pradaria eu desabei.
Não me importava mais que eles me alcançassem,
Naquele momento, eu só queria que alguém fizesse a dor parar.
A noite estava linda, as estrelas cintilantes pareciam tão próximas
E a linda lua nunca tinha estado tão brilhante
Mas as centenas de vozes na minha cabeça
Junto daquele frio maldito, não me deixavam descansar
Quase sem forças virei a cabeça e olhei para a pradaria
Por Deus, nunca tinha visto um rebanho tão grande.
Minha turva visão foi incendiada por aquela visão demoníaca
Centenas de poderosos touros e vacas bufando alucinados
Com seus estigmas ainda em fogo,
Seus grandes chifres negros brilhavam a luz do luar,
Os cascos pareciam ser feitos de aço e seus olhos eram vermelhos.
Entregue a dor, eu fiquei a contemplar seu esplendor sobrenatural
Apesar de sempre ter sido um incrédulo,
O velho Stan nunca havia deixado de contar sobre a lenda,
Aquele era sem dúvida o rebanho do diabo.
Ouvi passos vindo em minha direção
Vagarosamente, aproximava-se de mim uma estranha figura esguia
Ele se semelhava a um vaqueiro
Suas roupas pareciam estar encharcadas, encharcadas de sangue e suor.
A poucos passos de mim pude ver seu horrendo rosto de caveira,
Rasgos nas roupas exibiam horrendas chagas em seu corpo descarnado
Ele também expelia um fedor cadavérico
E às vezes seu rosto ficava envolto
Na fumaça de um cigarro que cheirava a enxofre.
Oh ele sentou ao meu lado, balançou minha perna e sorriu,
E com uma voz rouca e pesada a figura me disse:
“Oh seja bem-vindo garoto, que bom que finalmente resolveu se juntar a nós”
E com uma voz rouca e pesada a figura me disse:
“Oh seja bem-vindo garoto, que bom que finalmente resolveu se juntar a nós”...