Rapha Marcelino - Levitar (Parte I)

Sonho c’a linha doce já, flor, rainha e esforço dado

Conto daqui p’a doze, claro, como se à rima fosse claro

Exponho a ira, o osso grato, donde saía o grosso prato

Contamina-se hoje carne e onde abri caroço, pago

Marcha nova apenas, ando e paro e tenho a minha dor

Tás na sova à berma a animar o ranho ali da ponte

O sangue na cabeça, e a cabeça com sangue a mais

Sentando esta mesa já ilesa dos carnavais

Tou nesta casa nova qu’ encaixo na cama antiga

E esta base adora-me em baixo e chama fica

Não me dês de nada mouco, são deveres que já não ouço

Mãos de três levadas longe, vão-se lentes, passa o choro

Berra a fera e espera tudo nesta terra buéda rude

Bués atletas eram mudos, e esta pedra serra o cume

Meras setas erram, juro, flecha aterra, peca ou une

Leva teto aberto a murros, trémulo é o meu cetro abrupto

Tanta lama q’ ama a cama, mas a chama clama o prato

Ratazanas na cabana amarrando o drama ao quarto

Fama janta gana humana da varanda em aparato

Ganda caravana, anda, chama o bando, a ama, o padre

Sinto o espaço cheio, e as costas caiem p’ó eu

Fico quase bem, na costa já vem o adeus

Anda nutrir a manhã, hoje abri a vida louca

Chama por mim amanhã, pois p’ra mim ainda é ontem

Diz-me que te falta todo o canto e treme

Finjo o que ressalta este meu sangue interno

Faz de mim responsável, tenho as mãos errantes

Traz aqui o que contava sem o bastão que entra aqui

Cheiro a medicamento, e a doença é narinas gastas

Mas p’a que fique a mente, adormeço uma rima clara

Vem à deriva o tempo, ando preso na minha marca

Ainda me vi na frente, amo o peso ainda há anos

Rapha Marcelino
Enviado por Rapha Marcelino em 24/05/2020
Código do texto: T6956930
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