DO DIA PRA NOITE (PANDEMIA)

Do dia pra noite

O lar virou foi cela

E a solidão de casa ficou mais intensa, que a solidão das ruas

Do dia pra noite

Quase tudo desacelerou, por mais que pedisse pressa

A qualquer custo, insistindo pelo viés inumano

Do dia pra noite

Quase tudo desmoronou cotações, mercados, ideologias, vaidades e crenças

E o desumano percebendo apenas que é humano

Do dia pra noite

Uns querendo abraço, outros colos, outros beijos

E muitos com raiva, outros com medo

Sozinhos apenas chorando

Do dia pra noite

Milhões, bilhões, trilhões

De visualizações, mensagens e curtidas

Do dia pra noite

Sem contato físico, espaço restrito

A internet até que enfim cobrando o preço

E o mundo real revogando o que no digital nós programamos

Do dia pra noite

Os deuses das guerras cheios de ódio, sem opção e unidos

Querendo salvar a quaisquer custos seus escravos de um vírus

Do dia pra noite

Quase tudo se humanizou

Mesmo assim quase ninguém notou a fragilidade social dos marginalizados

A fome, sede e impossibilidade de higiene dos mendigos

Do dia pra noite

Quase tudo se humanizou

O que mudou, melhorou, camuflou

O que não mudou, piorou

Mas continuaremos com ideologias, fé, tragos, goles e comprimidos

Comprimindo do dia pra noite...