Chegada
Vem chegando o trem do tempo,
Senhor Brilhante de Cinzento,
Eu o vi passar
Pela janela, torre e sentinela,
Em um só momento,
A tudo abrenunciar
Em minhas bagagens,
Pus as minhas saudades,
Juntas, as minhas bobagens
Onde estava com a cabeça?
Ei, Montanha, abra o ferimento,
Eis o unguento
Assim é o tempo
Não sei se perco a estação do agora
Mas sei que estou indo embora
E já não volto, não
Vem abrindo a porta
Que outrora eu fiz fechar
Eu fico indefeso, baby,
Feito um rebento
Chorando pra nascer
Chorando por chorar
Desfaça o asfalto, Ó, trem do tempo,
Seu vapor, seu vento
Eu os vi passar
Entre meus seios
Com o sol do momento
Debochando o meu jeito
E seus meninos finos
E seus talentos
De me fazer cansar
Os meus amores,
Todas as paixões,
E, meus senhores,
Todas as razões,
Se esvaem com o tempo
Vá, trem do tempo,
Desmancha o meu cabelo
Em um branco novelo
Traga o passageiro
De inerente cinzela
Herdando a forma paterna
É que vem chegando o trem do tempo
Passou janeiro
Deixa-o passar