PRECONCEITO
Ouvi um disparo no silêncio da noite
E pensei: Oh meu Deus, é mais um que se vai!
Aqui na favela não é brincadeira, seu moço
Cada tiro que é dado é um preto que cai.
Certamente acharão uma arma com ele
Pra justificar o sangue que se esvai
Pra que os homens de bem não sintam remorso
E possam dormir outras noites em paz.
Dizem que ela não poupa ninguém,
Mas que preconceito a morte tem?
Você pode até se sentir diferente,
Mas o sangue de preto é vermelho também
Dizem que ela não poupa ninguém,
Mas que preconceito a morte tem?
Pra quem é preto e favelado, seu moço,
Mais depressa a morte vem.
O lamento que canto é um espanto de morte
Ode de desespero e de indignação
Quanto mais cutucamos e abrimos o corte
Mais corpos de pretos se espalham no chão.
E eles dizem não existir preconceito, sem moço
E assim podem olhar em outra direção
E por mais que eu exorte, o anjo da morte
Vem como um ceifador colher a plantação.
Dizem que ela não poupa ninguém,
Mas que preconceito a morte tem?
Você pode até se sentir diferente,
Mas o sangue de preto é vermelho também.
Dizem que ela não poupa ninguém,
Mas que preconceito a morte tem?
Pra quem é preto e favelado, seu moço,
Mais depressa a morte vem.