Favela e resistência

Preto é o lugar onde moro.

É o cão-abrigo da minha pele.

É todo este chão onde choro.

Ventos que não me apaguem.

Balas que não me rasguem.

Tenho mulher e filhas.

Tenho suor e trabalho.

Luto com a minha fé.

Mas a esperança....

Será que ela vinga?

Quem é que duvida?

Quem é que duvida?

Rara sorte, pouca sorte;

tanto faz!

Viver favela é ser capela.

É aonde um dia eu corri criança.

Esta é a terra das minhas cinzas.

Por Deus,

o apartheid só nos discrimina!

Todos nossos sonhos esfarelam.

Chover é ver o corpo sangrar em balas.

Porque favela é senzala;

e não me fale de "Lei Áurea"!

Ontem foi um garoto, hoje uma menina.

Triste sina!

Mas quando é que esta guerra termina?

Quem é que duvida?

Quem é que duvida?

Rara sorte, pouca sorte;

tanto faz!

Aqui em cima só pés-de-chinelo.

Lá embaixo reinam os castelos.

A metrópole só ama os shoppings.

Filho de mãe preta, corre!

E agora me digam, que são os heróis:

Os traficantes, os policias?

Às vezes eles são tão iguais!

Mas a gente...

A gente só quer a paz!

Favela não é Disneylândia,

é tudo uma miscelânea.

Pobre infância!

Quem é que dúvida?

Quem é que dúvida?

Rara sorte, pouca sorte;

tanto faz!

Canto, choro e oro.

Acendo velas sobre o moro.

Vou erguendo os meus tijolos.

Só Deus é o socorro.

Eu limpo as lágrimas dos olhos.

Deixo meu sangue cingindo o papel.

O mundo é cruel!

Mas enfim,

aqui de cima é bem mais perto do céu.

Quem é que duvida?7

Quem é que duvida?

Rara sorte, pouca sorte;

tanto faz!

Autor:

Francisco de Assis Dorneles.

ChicosBandRabiscando
Enviado por ChicosBandRabiscando em 07/12/2019
Reeditado em 08/12/2019
Código do texto: T6813346
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