O herói invisível

O meu Estado é um olhado furado.

É carne picada, sangue talhado.

É um parafuso apertado, enferrujado!

É você dando o seu recado.

Porque dados são dados.

Números contando o teu estrago.

E não há nada de novo no front.

Mas, a gente finge; não vive, se esconde.

Das mentiras que você nos conta.

Do teu exército que nos afronta.

A violência é tão fascinante.

Extermina a vida num instante.

E o nosso futuro tão distante...

Nada cura a loucura dos lobos.

Quantos corpos pelas ruas.

Agora ninguém mais grita.

É proibindo ficar rouco.

Alguém nos diga.

Quando chegará o amanhã?

É preciso sonhar de novo.

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

Quantos inocentes você cala.

Um dia vivo.

No outro...

Estranha linguagem das tuas balas.

Só é permitido estar morto.

Ainda assim, a liberdade arde.

É o prato indigesto a ti.

Covarde!

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

Soldados brincando de dardos.

O nosso sangue jorrando quente.

Na praça perfilando os tanques

A nossa ferida que não se estanca.

É o sangue puro dos inocentes.

Tão quente!

Uma bandeira branca.

Um perfume derramado.

O cravo foi esmagado.

Despedaçado.

Por nada!

Balas não falam.

Apenas calam.

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

O teu terror sentirá o nosso afago.

Calados, crucificados...

Ainda, lembrados.

Pois, nenhum herói estará morto.

Resistindo...

Falando do fim.

Do teu pão e circo.

Deste perigo.

É tudo assim.

É tão ruim!

Nada de novo.

Castigo!

Um anjo na Praça Celestial.

Um anjo livre, oprimido, preso!

Um anjo tão indefenso.

Um anjo em inferno astral.

Os fins justificando os meios.

Os tanques abrindo caminho...

Um homem atingido em cheio.

Aonde é que a gente se esconde?

Nenhum ditador ama o seu povo.

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

Sabemos disso mais que um pouco.

Autor: Francisco de Assis Dorneles

ChicosBandRabiscando
Enviado por ChicosBandRabiscando em 17/11/2019
Reeditado em 17/11/2019
Código do texto: T6797316
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