ChicoDoCrato-RubemAlves-OsPoetas
ChicoDoCrato-RubemAlves-OsPoetas
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ChicoDoCrato, Música, Voz e Violão, Arranjo, Mixagem e adaptação de texto de Alfredo Bosi – extraído do seu livro “ SE EU PUDESSE VIVER NOVAMENTE “.
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Declamando
Neruda, em Confesso que vivi, declara que foi através da estética que ele encontrou o caminho para a alma do seu povo.
Também os humildes e os pobres se alimentam de beleza.
Eu nunca imaginei que seria escritor.
Não me preparei para isso.
Conheço pouco da tradição literária.
A literatura me chegou sem que eu esperasse, sem que eu preparasse o seu caminho.
Chegou-me através de experiências de solidão e sofrimento.
A solidão e o sofrimento me fizeram sensível à voz dos poetas.
A decisão foi tomada depois de completar quarenta anos: não mais escreveria para os meus pares do mundo acadêmico, filósofos ou teólogos.
Escreveria para as pessoas comuns.
E que outra maneira existe de se comunicar com as pessoas comuns senão simplesmente dizer as palavras que o amor escolhe?
Fernando Pessoa declara que “arte é a comunicação aos outros de nossa identidade íntima com eles”.
Toda alma é uma música que se toca.
Quis muito ser pianista. Fracassei. Não tinha talento.
Mas descobri que posso fazer música com palavras.
Assim, toco a minha música...
Outras pessoas, ouvindo a minha música, podem sentir sua carne reverberando como um instrumento musical.
Quando isso acontece, sei que não estou só.
Se alguém, lendo o que escrevo, sente um movimento na alma, é porque somos iguais.
A poesia revela a comunhão.
Cantando
Não escrevo teologia.
Como poderia escrever sobre Deus?
O que faço é tentar pintar com palavras as minhas fantasias
– imagens modeladas pelo desejo – diante do assombro que é a vida.
Se o Grande Mistério, vez por outra, faz ouvir a sua música nos interstícios silenciosos das minhas palavras, isso não é mérito meu.
É graça. Esse é o mistério da literatura: a música que se faz ouvir, independente das intenções de quem escreve.
É por isso que poesia, como bem lembrou Guimarães Rosa, é essa tão próxima da magia...
Poesia é magia, feitiçaria...
O feiticeiro é aquele que diz uma palavra e, pelo puro poder dessa palavra, sem o auxílio das mãos, o dito acontece.
Bis
Deus é o feiticeiro-mor: falou e o universo foi criado.
Os poetas são os aprendizes de feiticeiro.
O desejo que move os poetas não é ensinar, esclarecer, interpretar.
Essas são coisas da razão.
O seu desejo é mágico: fazer soar de novo a melodia esquecida.
Mas isso só acontece pelo poder do sangue do coração humano
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