Cinamomo

CINAMOMO

Já se vai mais um outono

e teu cerne, cinamomo,

não padece diante ao tempo.

Como perdemos amores,

tu perdes folhas e flores

pela insensatez do vento.

A raíz que tens no chão,

mal comparo à um coração

que bate cicatrizado.

E se agora és claridade,

chora a sombra - tua metade

desde que foste plantado -

Do que sinto, cinamomo,

eu também nunca fui dono...

...restou-me o viver vazio.

- Me desfolhei em sorrisos

e tu, no corte preciso

dos machados de bom fio.

Viverás além de mim..

...ou encontrarás teu fim

muito antes, em verdade.

- Pois chegadas e partidas

são o que fazem a vida

ser eterna nas saudades!

Cuida o tempo, cinamomo,

disfarçando o mesmo sono

que vela o frio das esperas.

- Sorte, por algo não cansas

de renovar a esperança

ao voltar a primavera.

E quando tu foste abrigo,

deixaste marcas comigo

e um tanto desta fragrância

(que enfeitiça os caminhos)

- Como é lindo andar sozinho

nos corredores da infância!

Que pena os rumos mudarem

e muitos sonhos passarem

num suspiro - mais que nada -

...e os pés que iam descalços,

pisarem agora infalsos,

temendo as encruzilhadas.

Tu anseias chuvas mansas

e que a terra - por confiança -

seja santa à brotação.

Pra outra vez, bem copado,

ser testemunha postado

dos silêncios do rincão!

Eu anseio novos dias,

onde tudo de valhia

floresça com humildade.

Este é o tempo, cinamomo:

- À ti, se vai outro outono...

...e à mim, um ano de idade.