Depois do Campo Encharcado
DEPOIS DO CAMPO ENCHARCADO
Carregam o mesmo pêlo...
...cola e crina semelhantes;
No batismo das tormentas,
paridos do céu pesado.
E pintam quadros que a vida
(talvez por ser tão discreta)
só lhes revela aos poetas,
depois do campo encharcado.
À quem repara, sem jeito:
- Não mais que acaso das horas
de um resto de chuva mansa
sob o estender do alambrado.
Porém, aos olhos do campo
remontam forma e tropilha;
E como pingos de encilha,
são - um a um - apartados.
Logo depois que o aguaceiro
lhes deixa nesta morada,
tal se escolhidos a dedo
pelos rigores do tempo.
Crescem, feito potros novos,
ganhando estado de doma;
Sentem nas farpas, choronas...
...depois, costeiam-se ao vento.
Às vezes, tombam maneados
(ao renegarem a forma)
por um senhor fio de crina
- capataz desta amplidão -
que ali cuidava a entrega
dos pingos já enfrenados,
que, por fim, são deramados
pra tranquearem rumo ao chão.
Por isso, as tardes de chuva
são bem mais do que aparentam;
Amansando outros cavalos
no simples deste cenário.
E o sexto fio do alambrado
que era largo parador,
descobre o próprio valor
num relato imaginário.
Só mesmo a alma que é pura
sabe enxergar na quietude,
aquilo que nos caminhos
teima esconder o seu viço.
Pois, comparando o que fica
de um temporal estendido,
faz de gotas sem sentido,
tantos fletes de serviço.