VERÃO das TREVAS

Repetir o que eu fui

é a morte

quando o que vive

é absoluto enquanto

não secar

Ainda iremos ao lugar

que é mínimo sendo total

e por ser assim é o útero

da cosmogonia

A paz que demora é a paz

que um dia

deixará a função

de silêncio de após-a-morte

p'ra rugir o trovão fundamental

E o som será uma fera no tempo

tão pacífico quanto irriquieto

na borbulhação da paz carnal

Agora enquanto

as baratas devoram a base

do país

nós-nos encontramos

em qualquer lugar e qualquer

lugar não fica em qualquer esqui-

na catástrofe noturna

os homens enlouquecem calmamente

incapazes de morrer

sòzinhos eles dormem no túnel

onde as ruas desmoronam

entre as carnes do tempo

e a música infernal

que ecoa além da morte

como aviso de que os impérios terrestres

murcham na flor dos tempos

tempos que um profeta nostálgico

vislumbra no passado

com medo

do verão das trevas

que uiva no portão

da Terra Abrupta

quando ainda pelejavam os descrentes,

esfarrapando ruptura!