MUTANTE
Será que eu peguei
o bonde errado
ou a juventude do meu tempo
perdeu a condução?
A lua ainda é a mesma,
o sol vem pela manhã
e a analista me escaneia
todo dia em seu divã.
A bandeira flamula
redundante bem na praça
e eu feito um mutante
olho mas não acho graça,
e se protesto com delicadeza
pode ter certeza
que faço fogo,
mesmo sem fumaça.
Esperavam um fuzil
e eu trouxe só um violão.
E ninguém percebeu
minha nobre intenção.
Por um instante me calei,
porém de repente assustado e aflito
soltei meu canto estranho e quase rouco
e quase ensurdeci com a força do meu grito.
Saulo Campos - Itabira MG