INFERNO DE DANTE

O PIOR PASSOU

Era, na verdade, para ser talentoso artista.

Faltou direção, predisposição, e total lucidez.

Embarcado no trem, desce deslizando na pista.

Álcool serviu à desculpa, sendo primeira da vez.

Luta materna, exemplo paterno, como nada, sente.

Intelecto bloqueia caminho de obstáculo, peso, pedra.

Rolando ribanceira, pulando precipício, abobada mente.

Todo esforço medido, qualquer final prendado o medra.

Teatro, matou na inaugural aula, nunca visto foi mais.

Perdido, sem um norte, porém muito forte, até bateu.

Apanhou da vida sem motivo, oportunidade demais.

Jogou fora estatística, no lixo, nem anotou, percebeu.

Plano traçado, ou melhor, sonhado, foi bem desviado.

Destino, desde sempre, no controle, terra, estrela, céu.

Assim como inferno de Dante, qual fosse agora condenado.

Troquei os apoios das pernas, tranquilo enrolando papel.

Cantei querendo coro, batuquei no violão, compus, gostei.

Não estudei e fiquei a ver navios, no horizonte, viajando.

Sorte, aliada eterna, trouxe jardins das flores que pintei.

Amada cuida bem dele, e vive sempre me acomodando.

Demonstra amor tamanho, respeito, atitude, compreensão.

Nada abala sua meta, toda virtude, tem seu risco calculado.

Aperto, sufoco, na hora do gozo, jamais poderia abrir mão.

Parece que o pior passou, omitiu, agora é só curtir adoidado.