RUA JOÃO
Dentes sorrindo, um rosto na janela
O céu azul em cor
Sempre ouvindo o sino da capela
Correndo o campo em flor
Todo dia a folia era aquela
Na rua João e foi...
Peito se abrindo ao vento feito vela
Até o sol se por
Sujo de tinta como numa tela
Cortando o pé sem dor
Todo dia a folia era aquela
Na rua João e foi...
A bola, o muro, o morto, um pé no rio
O pito e a surra que levou
À noite o quarto escuro, um calafrio
O vulto que passou
As pernas de Maria viu
No sonho e nem toda a vontade se acabou
Dentes sorrindo, um rosto na janela
O céu azul em cor
Sempre ouvindo o sino da capela
Correndo o campo em flor
Todo dia a folia era aquela
Na rua João e foi...
O velho pipa que um dia perdi
Um vento forte carregou
O moço que morreu ali
O trem que viu e não parou
A estória que não me esqueci
Da rua que só da saudade não passou
Era um mundo cheio de sabor
De fantasias multicor
Onde o sonho e só sempre entrava
E o sol transpirava o amor
Dentes sorrindo, um rosto na janela
O céu azul em cor
Sempre ouvindo o sino da capela
Correndo o campo em flor
Todo dia a folia era aquela
Na rua João e foi..
Um dia o mundo acordou vazio
Toda a folia se acabou
O pito nunca mais ouviu
O chão abriu e se calou
O rosto fugiu da janela
Na rua a casa se fechou
Maria andou com suas pernas
E o rio veio a poeira e secou
Era um mundo cheio de sabor
De fantasias multicor
Onde o sonho e só sempre entrava
E o sol transpirava o amor