ACALANTO

ACALANTO

Canta pr'o teu amor dormir.

Brinca pr'o teu amor sorrir.

Ama pr'o teu amor te amar.

Pois todo amor ainda é pouco:

Não queres ir, dormir tampouco,

Para mais junto d’ela estar.

Queres sim tua namorada

Cantando-a até a madrugada

Vir os morros longe clarear.

Queres ficar junto à janela

Para assim velar sono d'ela

Em serenata sob o luar.

Logo ela cerra os olhos seus

E, linda, vai dormir com Deus

Para contigo poder sonhar.

Canta bem baixinho: Acalanta

Sem sequer roçar a garganta,

Para ela não vir a acordar...

Afinal, quem tu te pareces?

Faça ela lá as suas preces

Sem quase nada t'escutar.

Que se a música enche a noite alta

Em plenos sons deixando a pauta,

Pode à bela não agradar.

Mas se lhe cantas com carinho

E lhe assobias bem baixinho

Apenas para acalentar,

A tua ternura tão só

Te leva d'ela o menor dó

Para o vosso comum lugar.

Betim - 10 05 1995