OpontoDOmelhorAMIGO-ChicoDoCrato-MilicaSan
OpontoDOmelhorAMIGO-ChicoDoCrato-MilicaSan
ChicoDoCrato-Música, Voz, Violão, Arranjo, Mixagem e adaptação do Texto de Milica San.
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Audacity, 000+30 em Síbemol. Gravação caseira. Gravar em estúdio.
Não é todos os dias que se encontra um Melhor Amigo.
Na noite passada, um homem de meia-idade sentou-se ao meu lado num ponto de ônibus, e como quem não queria nada ou apenas uma informação, me perguntou as horas.
"21h36". Respondi, sem lhe olhar nos olhos.
"É a hora certa."
Inclinei-me então, curiosa para observá-lo. Era um homem bonito, de olhos muito preto e vivos, embora pequenos, não tinha muitos cabelos e vestia um terno marrom escuro pouco maior que o seu tamanho.
"A hora certa? O senhor é do tipo que calcula com precisão o horário que os ônibus passam?"
"Não acho que precisão de horários funcione muito com os ônibus de nossa cidade. É a hora certa para se fazer um Melhor Amigo."
"Um... Melhor Amigo?"
"Sim. Pra todos os momentos, pra rir e chorar. Um melhor amigo por uma hora pra todas as horas."
Religiosos! Pensei. Religiosos e seus discursos prontos, mas aquele horário, na desolação de um ponto de ônibus, não parecia um bom momento para pastores deixarem suas casas em busca de ovelhas perdidas. Pra minha surpresa, o homem nada tinha de religioso. Começou a contar de sua vida como alguém que abre um romance e decide ler em voz alta. Contou de seus 43 anos. 43 anos sem um Melhor Amigo. Disse com detalhes sobre toda sua trajetória, assim como fazemos com os mais próximos. Não era uma vida de muita aventura, mas eu sentia emoção e vontade de chorar em cada uma de suas palavras. Como podia alguém ter vivido até os 43 anos com tão pouco fogo? Tão pouca euforia...?
Ele pediu que eu falasse um pouco de mim, eu não me limitei, nem deveria. Disse tanto em tão pouco tempo. Contei de amores perdidos, das peripécias na escola... dos meus sonhos.
"Eu não perdi um amor, nunca me permiti ter um. Você tem 17 anos e tantos sonhos."
"É uma boa idade para sonhar, não?!" Disse-lhe rindo.
"Eu também tenho um grande sonho. Queria um barquinho pra navegar sob a luz de uma lua cheia."
"Ora essa, não parece muito difícil."
"Mas eu não tenho o barco, menina. Nem o mar, nem a lua cheia."
Enquanto eu tentava convencê-lo com empolgação que aquilo era lindo e completamente possível, um ônibus se aproximou e ele fez sinal com uma das mãos.
"Ei, moramos em bairros próximos. O senhor não quer me deixar um contato seu?"
Ele não me deixou nada além da promessa de que jamais me abandonaria e que ainda viveríamos muita coisa juntos. Eu não tinha muita certeza disso. Foi quando me percebi do lado de fora, forçando a voz, quase berrando.
"Eu posso te levar ao mar numa noite de lua cheia. Acredite em mim. Eu posso te levar ao mar numa noite de lua cheia. Acredite em mim... Por favor. Acredite em mim."
(Bis No final) Ele sorriu, e foi embora.
Eu fiquei.
E chorei.