CABELO CRESPO
Ontem fui assaltado
Um irmão de cor veio me ajudar
Confundido foi baleado
E o outro, usurpador, conseguiu escapar
Quanto mais eu vivo menos compreendo
Nasci e cresci com o ódio corroendo
Vi a covardia
Vi a minha raça trabalhar de graça
Construindo prédios, morando na praça
A face fria
Quanto mais trabalha, mais o corpo falha
Fabricando espuma, dormindo na palha
Quanta agonia!
Quanto de absurdo existe nisso tudo?
Construindo escolas, indo sem estudo
Quanta ironia!
Mas quem não tem eira
Agradece a beira
Fabricando carros, subindo ladeira
E as seis, Ave Maria!
Levando água limpa pro doutor maroto
Vendo sua filha brincar no esgoto
É judiaria
Recebe a promoção o irmão do meu patrão
Tapinha nas costas é o meu quinhão
E marmita fria
E segue minha raça na escravidão
O mínimo é o máximo de poder em suas mãos
E bolsa família
O que você faz da vida
Qual seu nome mesmo
O quanto ameaça um cabelo crespo, hein dona polícia?
Vamos dar uma pausa, não leve a mal
Um dia tudo muda de forma normal
Mas agora...
Agora é carnaval
É só folia
Só Alegria
Esquece, esfria
Agora é carnaval