Procissão-ChicoDoCrato-EméritaAndradeRamos
Procissão-ChicoDoCrato-EméritaAndradeRamos
ChicoDoCrato, Música, Voz, Violão, Sintetizador, Arranjo, Mixagem e adaptação do texto de Emérita Andrade Ramos.
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Audacity 060 Ritmo 067+50 em Fá+. Gravação caseira. Gravar em estúdio.
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O destino me parece
Uma criança travessa...
Água que corre na luz
Assim corre o pensamento
Ah, se a água corresse
Com as areias ao vento
Sempre rente dos rochedos
Fazendo mesura à sorte
Para banhar de ternura
Esse meu povo do norte.
Desse mundo ressequido
Grande aventura é viver
Fazendo festas de flores
Com mulheres-damas e santas
Dançar em noite de lua
Sobre o terreiro varrido
Bebendo água de poço
Beatas tirando rezas
Acompanhadas do povo
Com velas e santos bentos.
Em procissão acendida
Na memória popular
Tira o cego a melodia
Cantorolando baixinho
O seu canto de pedinte
O povo grita os seus cantos
Aos santos do lugar
Padre Cicero é lembrando
Posso dizer convocado
Para livrar-lhes do mal.
Sací-Pereré é moleque
E salta de lá salta de cá
Carrega cartas e bilhetes
Dos mangangões do poder
Para a fachada manter.
Do mal da concupiscência
Contra os coriscos de hoje
Que roubam suas Marias
Bonitas, quase devotas
Mães de crianças já mortas.
Por ausência de Poder
Choram, riem e cantam
Nesta esperança de crente
Os homens com seus chicotes
Se martirizam sangrentos
Para aos céus imprecar
Contra este tão desamor
Contra as riquezas da vida
Que o destino lhes faz negar
Sob este manto de estrelas.
O céu, deste azul finito
Desconhece os seus tormentos
Manda-lhes chuva de prata
De ouro, ferro e basalto
Lençóis de mármores azuis
Eles de mãos calejadas
Só querem que chuva chova
Para lhes molhar as plantas
Sendo elas seus tesouros
Para poder cultivar.
Seus roçados de mandioca,
De milho, feijão e quicara
Para as barrigas forrarem...
Mas vejam que ingenuidade
Os Deuses não se apetecem
Destes tão pobres manjares
Eles não guardam temores
Por verem crianças mortas
Sob a tutela da fome
Nas covas rasas no chão.
Plantas carnívoras, essas nascem
Dos tapetes nos salões,
Nos corredores compridos,
Por entre as dobras e capas.
Das confrarias secretas,
Festas das festas, só festas
Neste mundinho de horror
Anfitriões opulentos
Distribuindo insolentes
As benesses do poder.
Este poder decandente
Corrompido aos nascer
Reza o povo, as novenas,
Pedindo graças pequenas.
Só querem a sede aplacar
A nação vive em demência
O povo com suas crenças
E a escravidão lá está!
Mães que da dor adormecem
Jovens fortes enlouquecem;
E o camponês obrigado a plantar,
Plantando alucinógenos
Para os donos do lugar.
Aqueles das confrarias
Nos tapetes dos salões
Das festas, uísques e orquestras
Recobertos de galões
Que sorrindo decandentes
Vão opulentos vestidos
Aos domingos confessar...
Mas eles não têm pecados
São mecenas ajoelhados
Em contritas comunhão
Impolutos julgadores
Incorruptos legisladores
Da alienada nação
Que sonâmbula e aniquilada
Se concebe engalanada
Das estatísticas maquiadas
Fazendo na ONU exibir!
Bis
Anfiteatro de sonhos
De elevadas magestades
Servidores dos Patrões
Engalanados de brilho
Artifícios dos menores
Que empanam as verdades
E distribuem as maldades
Enriquecendo potentados
Espalhando a fome entre os povos
Na mais cruel ambição.