A ‘análise linguística’ de "Comunhão", canção de Milton Nascimento Compositor/Fernando Brant e participação: Tadeu Franco e Simone.

"A boca fala do que cheio o coração está!

Onde está teu tesouro,

aí estará teu coração.

Ninguém se vestiu como as flores do campo, nem Salomão...

Bendigo ao Pai por revelar tais coisas aos pequenos e não aos doutos."

Jesus

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo"

Clarice Lispector

"Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário."

Carlos Drummond de Andrade

“Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma tem mil faces secretas

sob a face neutra

e te pergunta,

sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível,

que lhe deres:

Trouxeste a chave?”

Carlos Drummond de Andrade

_________________

PASSEI DA PRÉ-ESCOLA A ATUAR NO ENSINO FUNDAMENTAL 2.

COMO ME PREPARAR?

(Helma Soraya Soares Lovisi, São Paulo)

Cada segmento da Educação Básica apresenta especificidades em relação à forma de o

professor atuar, então é importante investir no próprio desenvolvimento para adequar o perfil às

demandas do novo contexto pedagógico. No seu caso, Helma, o primeiro passo é aprofundar o

conhecimento sobre a adolescência, fase em que está grande parte de seus atuais alunos e que é

bem diferente do perfil dos pequenos. Isso ajuda a ter uma visão sistêmica dos estudantes,

essencial para planejar a gestão da sala e as intervenções feitas em classe. A observação, a

escuta atenta e o diálogo são a base para essa reflexão. Procure estudos sobre as características

dessa faixa etária, como se dá a construção de identidade, de que forma eles se relacionam com os

pares, pais e professores, e quais são os conflitos comuns. O segundo ponto é aprofundar os

saberes sobre as expectativas de aprendizagem para o ano, com o estudo dos documentos

curriculares elaborados para o país, a rede e a escola. Por fim, mantenha um diálogo constante

com os colegas e com a equipe gestora, para que a construção do conhecimento seja um trabalho

coletivo. Afinal, aprende-se a ser professor no cotidiano da escola.

Neurilene Martins. Questão de Ensino.In: Nova Escola, abril,2015, ano 30, nº 281,p.10

http://nucepe.uespi.br/downloads/prova_portugues_semec2015.pdf

___________________

ANÁLISE LINGUÍSTICA é reconhecida como valor prático na educação junto com a gramática do texto (das orações, concordância, regência, crase, colocação pronominal, ortografia, fonética e estilística) e a leitura e a produção de textos.

"...a prática de análise linguística implica desenvolver, no nosso aluno, uma reflexão sobre a linguagem, observando a organização do texto, a situação social de produção, o gênero, a seleção lexical que dá conta da situação de interação, os recursos de textualização e as regras."

O uso da expressão ‘análise linguística’ não se deve ao mero gosto por novas terminologias. A análise linguística inclui tanto o trabalho sobre as questões tradicionais da gramática quanto questões amplas a propósito do texto, entre as quais vale a pena citar: coesão e coerência internas do texto; adequação do texto aos objetivos pretendidos; análise dos recursos expressivos utilizados (metáfora, metonímia, paráfrases, citações, discursos direto e indireto etc.); organização e inclusão de informações. Essencialmente, a prática de análise linguística não poderá limitar-se à higienização do texto do aluno em seus aspectos gramaticais e ortográficos, limitando-se a ‘correções’. Trata-se de trabalhar com o aluno o seu texto para que ele atinja seus objetivos juntos aos leitores a que se destina.

Acesse a versão antiga do Player

Comunhão: Milton Nascimento

02:0403:32

Letra

Participações de Tadeu Franco e Simone

Sua barriga me deu a mãe

O pai me deu o seu braço forte

Os seios fartos me deu a mãe

O alimento, a luz, o norte

A vida é boa me diz o pai

A mãe me ensina que ela é bela

O mal não faço, eu quero o bem

Na minha casa não entra a solidão

Todo o amor será comunhão

A alegria de pão e vinho

Você bem pode me dar a mão

Você bem pode me dar carinho

Mulher e homem é o amor

Mais parecido com primavera

É dentro dele que mora a luz

Vida futura no ponto de explodir

Eu quero paz, eu não quero guerra

Quero fartura, eu não quero fome

Quero justiça, não quero ódio

Quero a casa de bom tijolo

Quero a rua de gente boa

Quero a chuva na minha roça

Quero o sol na minha cabeça

Quero a vida, não quero a morte não

Quero o sonho, a fantasia

Quero amor e a poesia

Quero cantar, quero companhia

Eu quero sempre a utopia

O homem tem de ser comunhão

A vida tem de ser comunhão

O mundo tem de ser comunhão

A alegria do vinho e pão

O pão e o vinho enfim repartidos

Sua barriga te deu a mãe

Eu pai te dou meu amor e sorte

Os seios fartos te deu a mãe

O alimento, a luz, o norte

A vida é boa te digo eu

A mãe ensina que ela é sábia

O mal não faço, eu quero o bem

A nossa casa reflete comunhão

https://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/comunhao.html

_________________

Tendo em vista o poema acima, pode-se inferir categorias lógicas e a inteligência emocional dos que lutam pela dignidade da vida humana, contra a fome, a dispersão, as guerras, a discriminação, o respeita pela vida, pela cultura, pela mulher, pelo sentido da vida, pela comunhão pacífica e criativa dos povos, solidariedade, a imagem positiva das etnias, as opções éticas centradas no amor, no bem, na verdade, na distribuição justa dos bens, o respeito pela casa ou pela família e instituições de proteção às pessoas em geral (crianças, meninas, jovens, idosos, mulheres, deficientes, mãe social, etc.), o sentido da maternidade e da paternidade responsáveis e criativas, o respeito pela agricultura comunitária e familiar, a ecologia integrada à vida e à comunidade, superação das doenças, da solidão, da depressão, da injustiça institucionalizada, as políticas públicas de apoio ao menor, ao trabalhador, à trabalhadora rural e urbana, às cooperativas, ao empreenderorismo, cultivo de terras e reforma agrária como proposta do governo e justiça agrária e social para sem-terra e sem-teto...

A partir do texto ou poema ou canção, o eu lírico nos amplia a visão da vida versus a morte, o bem versus ao mal e egoismo, a distribuição dos bens versus a acumulação de bens e capitais, o trabalho acima do capital, a vida acima da guerra...

Vejamos a visão de análise textual:

"Porque a gramática é constitutiva do texto, e o texto é constitutivo da atividade de linguagem. [...] Tudo o que nos deve interessar no estudo da língua culmina com a exploração das atividades textuais discursivas. [...] O conhecimento da nomenclatura e das classificações gramaticais, insistimos, é visivelmente irrelevante para se dominar as amplas exigências da atividade verbal. (ANTUNES, 2007, p. 130-131)

Irandé Antunes é uma linguista brasileira com doutorado em Lingüística pela Universidade de Lisboa, com tese intitulada "Aspectos da coesão do texto - uma análise em editoriais jornalísticos", e mestre em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco.

A prática de análise linguística

Então, vamos analisar as relações sígnicas e imaginativas e culturais presentes nos versos do poema, assim:

Explorar a função dos sentidos opostos nas palavras de cada verso ou a função da repetição da palavra ‘quero’ no início de cada um?

Procurar os efeitos do paralelismo sintático e semântico em todos os versos?

Explorar o efeito de ênfase na explicitação do pronome ‘eu’ em alguns versos?

Explorar estratégia de criar significação pelo recurso à metonímia ou à metáfora? (ANTUNES, 2007, p. 128)

____

Objeto de ensino

Operadores argumentativos;

Organização estrutural das sentenças.

____

Sugestões de estratégias

Leitura e comparação de textos;

Exercícios de reescrita de textos e de trechos de textos.

Habilidade esperada

Perceber que as várias formas de estruturar períodos e de ligá-los por meio de operadores argumentativos (preposições, conjunções, alguns advérbios e expressões) podem mudar os sentidos do texto, ou podem resultar em textos mais ou menos coesos e coerentes;

Ser capaz de escolher, entre as diversas possibilidades da língua, a que melhor atende à pretensão de sentido de quem escreve;

Saber consultar dicionários e gramáticas para ampliar o repertório de operadores argumentativos e conhecer suas nuances de sentidos.

Irandé é autora de Aspectos da coesão do texto (1996), o primeiro livro dedicado exclusivamente à questão da coesão no Brasil. Publicou também Aula de português - encontro & interação, Muito além da gramática - por um ensino de línguas sem pedras no caminho, Língua, texto e ensino - outra escola possível, Lutar com palavras e muitos outros artigos em revistas especializadas."

https://pt.wikipedia.org/wiki/Irand%C3%A9_Antunes

_______________________

GRAMÁTICA E O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

WAAL, Daiane Van Der-UNICENTRO

daiewaal@hotmail.com

Eixo temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas

Resumo

O presente artigo é parte integrante de uma pesquisa intitulada “Língua Portuguesa: uma análise sobre o ensino nas séries iniciais” tendo por objetivo geral analisar como o ensino da Língua Portuguesa vem sendo ministrado nas escolas. A linha metodológica utilizada é o

Materialismo Histórico Dialético o qual possibilita a visão da totalidade bem como as contradições presentes no processo de ensino. Para tanto, o presente artigo se encontra dividido da seguinte maneira: Gramática e sua origem: Um breve histórico onde é feito um

resgate desde o nascimento até a implantação da gramática como disciplina curricular, bem como os interesses políticos presentes na sua formalização como modelo a ser utilizado; O Ensino da Gramática, onde é discutida a ênfase dada ao ensino gramatical em sala de aula

ignorando-se a análise linguistica, bem como a metodologia utilizada, onde a gramática é considerada como objeto principal no processo de ensino sobrepondo-se à linguagem. O presente artigo foi desenvolvido, tendo por base teórica os seguintes autores: Silva (2000), Lima (2006), Bagno (1999), Antunes (2007), Neves (2002), Cury (1985) e Perini (2006).

______________

A ênfase dada ao ensino exclusivamente da gramática em sala de aula ignora o objeto principal de ensino da Língua Portuguesa, a linguagem em suas várias modalidades, atendo-se apenas ao estudo das estruturas da língua privando o aluno de um aprendizado significativo e participativo da Linguagem.

Palavras-chave: Língua Portuguesa. Ensino. Gramática.

http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2003_1006.pdf

REFERÊNCIAS

http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2003_1006.pdf

ANTUNES, Irandé Costa. Muito além da gramática: Por um ensino sem pedras no caminho. 1ª Edição. Belo Horizonte: Ed. Parábola, 2007

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: O que é, como se faz. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Educação e contradição. 4º Edição. São Paulo: Ed. Cortez, 1985.

PARANÁ, Diretrizes Curriculares da Educação Básica-Língua Portuguesa. SEED:2008.

PERINI, Mário ª Gramática descritiva do Português. São Paulo: Àtica, 2006.

SILVA, Délcio Barros da. As principais tendências pedagógicas na prática escolar Brasileira e seus pressupostos de aprendizagem. Disponível em:<http://www.ufsm.br/lec/01_00/DelcioL&C3.htm>. Acesso em: 15 fev. 2009.

SONIA, Natália de Lima. A decisão de ensinar (ou não) a gramática teórica: depoimentos de professores de rede pública. Taubaté, São Paulo, 2006. Dissertação NEVES, Maria Helena de Moura.

A gramática-história, teoria, analise e ensino. São Paulo. UNESP, 2002.

__________________

Reflexões Linguísticas sobre Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa

Terezinha da Conceição Costa-Hübes

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

RESUMO:

Neste ensaio pretendemos revisar conceitos teóricos sobre metodologia de ensino, tema bastante presente nas licenciaturas. Sendo assim, o objetivo é refletir teoricamente sobre diferentes pressupostos epistemológicos que subjazem, direta ou indiretamente, o(s) encaminhamento(s) metodológico(s) para trabalhar com a leitura,

a oralidade ou a escrita no ensino da Língua Portuguesa. Para tanto, adotamos a metodologia dialética uma vez que, relacionando o binômio teoria/prática, provocamos reflexões quanto ao conhecimento teórico do professor e sua ação pedagógica no ensino da Língua Portuguesa.

PALAVRAS-CHAVE: metodologia de ensino, língua portuguesa, relação teoria-prática

http://llp.bibliopolis.info/confluencia/pdf/742.pdf

Como explica Bakhtin (2004) ao tecer sua crítica ao objetivismo abstrato, o mais importante, em se tratando da língua, é reconhecer seu sistema linguístico, a saber, o sistema das formas fonéticas, gramaticais e lexicais da língua, pois o que interessa é ensinar a falar e a escrever, [...] a língua é um arco-íris imóvel que domina este fluxo. Cada enunciação, cada ato de criação individual é único e não reiterável, mas em cada enunciação encontram-se elementos idênticos aos de outras enunciações no seio de um determinado grupo de interlocutores. São esses traços idênticos que garantem a

unicidade de uma determinada língua e sua compreensão para todos os locutores de uma mesma comunidade. (BAKHTIN, 2004, p. 77)

P. 133.

Metodologia da Sequência Didática (SD)

A metodologia da SD é uma proposta de trabalho com a língua a partir

dos gêneros discursivos, divulgada pelos pesquisadores de Genebra: Doz, Noverraz e Schneuwly (2004), os quais, orientados por uma concepção pautada no interacionismo sociodiscursivo que compartilha das teorias bakhtinianas, defendem a tese de gênero como megainstrumento para o trabalho com a linguagem na escola.

A ação discursiva é, portanto, ao menos parcialmente, prefigurada pelos meios. O conhecimento e a concepção da realidade estão parcialmente contidos nos meios para agir sobre ela. Tínhamos dito que o instrumento é um meio de conhecimento: eis a concretização da minha tese (SCHNEUWLY, 2004, p. 28).

Como explica Costa-Hübes (2008), a proposta de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) envolve estudos partindo de um determinado gênero discursivo (oral ou escrito), sobre o qual se organiza, de maneira sistemática, um conjunto de atividades com a finalidade de conhecer melhor o gênero, de acordo com as necessidades sociocomunicativas estabelecidas inicialmente. A esta atividade os autores dão o

nome de sequência didática, organizada em quatro eventos distintos:

Apresentação da situação

Módulo

1

Módulo

2

Módulo

n

PRODUÇÃO

INICIAL

PRODUÇÃO

FINAL

Figura 1 – Esquema da sequência didática

Fonte: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 98).

Apresentação

da situação

PRODUÇÃO

INICIAL

PRODUÇÃO

FINAL

Módulo

1

Módulo

2

Módulo

n

Confluencia 35-36.indd 139 20/4/2011 14:49:12

140 Terezinha da Conceição Costa-Hübes

A partir dessa orientação teórica, a atividade com determinado gênero, segundo os autores, tem início com a apresentação de uma situação de interação sociocomunicativa real, que visa fundamentar a necessidade de produção e aprendizagem relacionada a um gênero discursivo, oral e/ou escrito. Em seguida, solicita-se uma produção inicial do gênero selecionado, momento em que o

aluno elabora um texto (oral ou escrito), na tentativa de responder à situação de interlocução, proposta anteriormente. Essa produção inicial, conforme os autores,

oferecerá ao professor subsídios para diagnosticar a compreensão (ou não) que o aluno tem do referido gênero discursivo. Enfim, trata-se de um instrumento por meio do qual se pode encontrar elementos para analisar as capacidades e potencialidades de linguagem que o aluno tem, naquele momento.

A apresentação da situação não desemboca necessariamente em uma produção inicial completa. Somente a produção final constitui, bem frequentemente, a situação real, em toda sua riqueza e complexidade. A produção inicial pode ser simplificada, ou somente dirigida à turma, ou, ainda, a um destinatário fictício. (DOLZ, NOVERRAZ E SCHNEUWLY, 2004, p. 101) Depois, com base na avaliação diagnóstica, define-se o ponto de intervenção do processo ensino-aprendizagem, ou seja, a análise servirá para orientar as atividades a serem trabalhadas nos módulos, de forma a adaptá-los às necessidades reais dos estudantes envolvidos. Logo, o trabalho com os módulos consiste em abordar, de forma didática, os problemas que foram revelados pela análise da produção inicial.

Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), os problemas específicos

de cada gênero são avaliados sobre quatro níveis: representação da situação de comunicação; elaboração do conteúdo; planejamento do texto; realização do texto. E são trabalhados didaticamente em três categorias: observação e análise de textos; tarefas simplificadas de produção de textos; e elaboração de uma linguagem comum. Esse método de avaliar a produção inicial para, a partir daí, propor atividades em função das dificuldades elencadas no diagnóstico,

possibilita a construção progressiva de conhecimento sobre o gênero em foco.

Somente após um trabalho consistente com o gênero chega-se ao momento de colocar novamente o aluno na situação de produção de texto (oral ou escrito), delimitada no início da SD. De acordo com os autores, este momento revela o que foi apreendido ou não com os procedimentos adotados nos módulos, bem como, possibilita, ao professor, a realização de uma avaliação somativa acerca do processo ensino-aprendizagem.

Confluencia 35-36.indd 140 20/4/2011 14:49:13

Reflexões Linguísticas sobre Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa 141

Com base nesta proposta teórico-metodológica, produzida para o contexto sociocultural dos pesquisadores de Genebra, Costa-Hübes (AMOP, 2007a) e Costa-Hübes (2008) procuraram adaptá-la à realidade dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Essa proposta vem se materializando na publicação dos Cadernos Pedagógicos 01 e 02 (AMOP, 2007a; AMOP, 2007b) e no Caderno Pedagógico 03 (Costa-Hübes e Baumgärtner, 2009).

Segundo Swiderski e Costa-Hübes (2009), a proposta de adaptação consiste na inserção de um módulo de reconhecimento do gênero, com atividades e exercícios que contemplem a leitura, a pesquisa e a análise linguística com textos (já publicados) do gênero, antes da etapa da produção inicial, conforme podemos observar na figura 2:

MÓDULO DE

RECONHECIMENTO

MÓDULO DE

ATIVIDADE/EXERCÍCIOS

APRESENTAÇÃO

DE SITUAÇÃO DE

COMUNICAÇÃO

PRODUÇÃO

INICIAL

PRODUÇÃO

FINAL 1 2 n

Pesquisa

Leitura

Análise Linguística

Figura 2: Esquema da SD adaptada por Costa-Hübes

Fonte: Swiderski e Costa-Hübes (2009)

As condições de práticas de leituras, criadas pela SD, envolvem não

apenas o contexto de produção e a relação autor-texto, mas a este se soma o conhecimento do leitor e o contexto de uso que, conforme Orlandi (1993), são fatores determinantes na produção de sentidos. Desse modo, ao propormos uma adaptação à proposta metodológica de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), entendemos que, antes mesmo de se chegar à produção inicial, o professor tem a oportunidade de criar, para o aluno, várias situações que envolvam a prática de leitura de textos do gênero, já prontos, que circulam na sociedade. O contato

com esses textos pode mobilizar estratégias diferentes frente aos diversos objetivos que implicam o ato de ler. Além disso, trabalhar com a leitura não implica ignorar os outros eixos do processo ensino-aprendizagem de língua portuguesa.

Outro detalhe que salientamos sobre o trabalho de reconhecimento do

gênero, refere-se ao fato de que as informações sobre o gênero selecionado não são dadas gratuitamente, já que o mesmo não é tratado como uma forma pronta

Confluencia 35-36.indd 141 20/4/2011 14:49:14

142 Terezinha da Conceição Costa-Hübes

e acabada, mas como um instrumento relativamente estável. Entendido assim, a prática de ensino-aprendizagem precisa incentivar o processo de pesquisa.

Nessa perspectiva, o aluno tem dois problemas a resolver antes de iniciar sua produção: um abarca a pesquisa para conhecer os elementos que determinam, num dado contexto sócio-histórico e cultural, a produção e a circulação das amostras do gênero a ser abordado didaticamente; e, em segundo, a leitura e a análise dessas amostras, novamente buscando reforçar o conhecimento acerca

dos elementos que as constituem.

Para Lopes-Rossi (2006), um módulo de leitura, antes da produção de

textos, pode possibilitar o conhecimento das características típicas do gênero que responde à situação de comunicação. Todavia, salientamos que esse conhecimento só pode ser construído quando há um trabalho de leitura que não se limita apenas ao conteúdo temático, mas que amplia essa prática, abrangendo outros elementos que circundam um texto, tais como: seu contexto de produção, sua função social, sua construção composicional e seu estilo linguístico. Tais critérios são abordados no módulo de reconhecimento proposto por Costa-Hübes

(AMOP, 2007a) e Costa-Hübes (2008) e que correspondem à metodologia sugerida por Bakhtin/Volochínov:

A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes.

Disso decorre que a ordem metodológica para o estudo da língua deve ser o seguinte:

1. As formas e os tipos de interação verbal em ligação com as condições concretas em que se realiza.

2. As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em ligação estreita com a interação de que constituem os elementos, isto é, as categorias de atos de fala na vida e na criação ideológica que se prestam a uma determinação pela interação verbal.

3. A partir daí, exame das formas da língua na sua interpretação linguística habitual. (BAKHTIN, 2004, p. 128-129)

Conforme podemos inferir do exposto, a metodologia de um trabalho

didático no viés sociointeracionista compreende as condições de produção de enunciados; propicia um exercício de reflexão acerca dos elementos que possibilitam reconhecer um gênero discursivo e a sua função social; e provoca reflexões sobre as normas linguísticas utilizadas na situação de uso da língua(gem). Desse modo, defendemos que tal proposta metodológica

cor Confluencia 35-36.indd 142 20/4/2011 14:49:14

Reflexões Linguísticas sobre Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa 143

responde às prescrições vigentes de um ensino de língua que estabeleceria condições para um trabalho articulado entre oralidade, leitura e escrita, numa perspectiva reflexiva.

Considerações Finais

O resultado positivo no processo de ensino/aprendizagem da língua

portuguesa depende muito da definição e implementação de uma metodologia apropriada à teoria adotada como orientadora para o ato de ensinar. Isso significa clareza teórica, objetivos definidos e um planejamento de ensino que contemple todas as etapas e agentes nesse processo de ensinar, bem como as diferentes estratégias de avaliação.

Em outras palavras, poderíamos dizer que as escolhas de atividades

didáticas (a metodologia de ensino) estão relacionadas, diretamente, com os objetivos que se pretende alcançar, com a experiência didática do professor diante das ações que se pretende implementar, com o tempo disponível para o planejamento e implementação da ação, com a estrutura física e didáticopedagógica que atuará como suporte ao professor e, finalmente, com a aceitação e conhecimento prévio tanto do professor como do aluno. Com esses elementos orientando e dando suporte, a metodologia adotada tende a funcionar como guia e facilitadora no processo de ensinar. Assim, adotar uma postura metodológica condizente com a base teórica que orienta o ensino

é vital para o sucesso no processo ensino-aprendizagem.

Referências

AMOP – Associação dos Municípios do Oeste do Paraná. Sequência didática: uma proposta de ensino da Língua Portuguesa para as séries iniciais. Organizadoras: Carmem Teresinha Baumgärtner e Terezinha da Conceição Costa-Hübes. Cascavel-PR: Assoeste, 2008. Caderno Pedagógico 02.

_____. _____. Sequência didática: uma proposta de ensino da Língua Portuguesa para as séries iniciais. Organizadora: Terezinha da Conceição CostaHübes. Cascavel-PR: Assoeste, 2007. Caderno Pedagógico 01.

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Trad. Maria E. Galvão e revisão

por Marina Appenzeller. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

_____. (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. de Michel Lahud e Yara Frateschi.] 9. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

Confluencia 35-36.indd 143 20/4/2011 14:49:14 144 Terezinha da Conceição Costa-Hübes

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.

Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do

Ensino Fundamental: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

____. _____. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa. Primeiro

e segundo ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

COSTA-HÜBES, T. da C. O processo de formação continuada dos professores do Oeste do Paraná: um resgate histórico-reflexivo da formação em língua portuguesa. Londrina, PR: UEL, 2008 (Tese do doutorado em Estudos da Linguagem).

_______. BAUMGÄRTNER, C. T. Sequência didática: uma proposta para o ensino da Língua Portuguesa no ensino fundamental – anos iniciais. Cascavel, PR: Assoeste, 2009.

DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o

oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.; e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. p. 95-147

FARIA, V. F. S. de. O ensino da literatura e a formação do leitor literário: entre saberes, trajetórias de uma disciplina e suas relações com os documentos oficiais. Revista Iberoamericana de Educacion. N. 49/7, junho de 2009.

GONÇALVES, A. V. O fazer significar por escrito. Selisigno – IV Seminário de Estudos sobre Linguagem e Significação, v. único, p. 01-10, 2004.

KATO, M. O aprendizado de leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizontes, 1994.

LOPES-ROSSI, M. A. G. Gêneros discursivos no ensino de leitura e produção de textos. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S.(Orgs.) Gêneros textuais: reflexão e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.

MARX, K. O método dialético. In.: MARX & ENGELS. Ludwing Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã e outros textos filosóficos. Lisboa: Editorial Estampa, 1975.

MENDONÇA, M. C. Língua e ensino: políticas de fechamento. In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v. 2. São Paulo: Cortez, 2001. p. 233-264.

MORATO, E. M. O interacionismo no campo linguístico. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. V. 3, São Paulo: Cortez, 2004.

NEVES, M. H. M. Que gramática estudar na escola? Norma e uso na Língua Portuguesa. São Paulo: Contexto, 2003.

ORLANDI, E. P. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 1999.

______. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 1993.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos final do ensino fundamental. Curitiba: SEED, 2008.

PERFEITO, Alba Maria. Concepções de linguagem, teorias subjacentes e

ensino de língua portuguesa. In: Concepções de linguagem e ensino de língua portuguesa (Formação de professores EAD 18). V.1. ed. 1. Maringá: EDUEM, 2005. p. 27-79.

SHNEUWLY, B. Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e ontogenéticas. In: DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.; e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

SWIDERSKI, R. M. da S.; COSTA-HÜBES, T. da C. Abordagem sociointeracionista & sequência didática: relato de uma experiência. Línguas & Letras, vol. 10, n.18, 1º sem. 2009.

SUASSUNA, L. Ensino de língua portuguesa: uma abordagem pragmática. Campinas, SP: Papirus, 1995.

TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 3 ed. São Paulo : Cortez, 1996.

FONTE: http://llp.bibliopolis.info/confluencia/pdf/742.pdf

Reflexões Linguísticas sobre Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa 131

______________

Referências bibliográficas

ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. (Estratégias de Ensino; 5).

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental/Língua Portuguesa. Brasília, DF, 1998.

________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1998.

COSTA-HÜBES, T. da C. Uma tentativa de análise linguística de um texto do gênero “relato histórico”. Linguagem em (Dis)curso, Palhoça, SC, v. 10, n. 1, p. 181-205, jan./abr. 2010.

GERALDI, J. W. Unidades básicas do ensino de português. In. GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997. p. 59-79.

_____. O texto na sala de aula. Cascavel: Assoeste, 1984.

KOCH, I. A Interação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1995.

KOCH, I. G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.

MENDONÇA, Márcia. Análise Linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto. In. BUZEN, C; MENDONÇA, M.(Orgs.). Português no ensino médio e formação de professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. (p. 199-226) (Estratégias de Ensino; 2).

TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.

______. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.

VAGALUME. Comunhão. Milton Nascimento. Disponível em <https://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/comunhao.html>. Acesso em 16 ago 2016.

https://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/comunhao.html e http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2003_1006.pdf e http://llp.bibliopolis.info/confluencia/pdf/742.pdf
Enviado por J B Pereira em 28/08/2016
Reeditado em 04/09/2016
Código do texto: T5742987
Classificação de conteúdo: seguro