Escória
Pobre deste povo
Que não nasceu louro
Que come arroz com ovo
E que não têm ouro
Para chamar de seu
Pobre dessa raça feia
De cabelos sujos
E esses olhos cujos
O opaco tanto anseia
Aquilo que é teu
Vieram em navios
Revoltos e bravios
Ou aqui já estavam
E livres vagueavam
Sem noção de “meu”
São párias, são párias sem pátria!
São escória, escórias sem estórias.
Mas têm história
Nenhuma vitória
Que não ainda respirar
E esperar e acreditar
Os navios mudaram
São botes infláveis
Onde embarcaram
Famintos e miseráveis
E ninguém tem culpa
Mas todos têm desculpas
Para não ter de se azucrinar!
Se eles não são meus?
Se eles não são seus?
O que fazem aqui a peregrinar?
São párias, são párias sem pátria!
São escória, escórias sem estórias.
Mas têm história
Nenhuma vitória
Que não ainda respirar
E esperar e acreditar
E eles todos morrem
Como moscas, eles caem
E políticos discorrem
Discursos que se esvaem
São as ondas que trazem
Os guetos que escondem
As florestas onde somem
As fronteiras que se impõem
São párias, são párias sem pátria!
São escória, escórias sem estórias.
Mas têm história
Nenhuma vitória
Que não ainda respirar
E esperar e acreditar
E sonhar e sonhar