ROUXINOL E A FLOR DE MARACUJÁ
Rouxinol nasceu livre,
lá no galho da mangueira.
De espelho tinha um lago,
nos olhos uma vida inteira.
Cantava desde a madrugada,
o passarinho no ninho,
tinha nascido cantor o passarinho.
Nem bem aprendeu a voar,
olhou além da cerca viva
viu enroscada a flor de maracujá,
imitando o seu doce cantar.
Por volta do meio dia,
foi sorrateiro o rouxinol,
seus doces lábios beijar.
E foi assim dia e noite,
noite e dia,
levando seu cantar
e trazendo o nectar da maracujá.
Nem bem chegou o inverno,
Rouxinol foi pelos campos a cantar.
A flor sem alegria emudeceu,
cansou de o esperar,
já não o alcançava com o olhar.
Eis que dorme a flor de maracujá.
Rouxinol já bem ensaiado,
volta feliz para a mangueira visitar.
Ele se veste de primavera,
no bico um ramo de oliva
para sua flor de Maracujá.
Nem bem se aproxima,
sua vista escurece,
cai na cerca a soluçar.
Sua amada morreu de frio
sem suas asas para a cobrir,
ou quem sabe cansou de o esperar.
Insiste em acordar sua flor,
mas é em vão o seu tentar.
Para que ensaiou tanto seu canto,
se agora não tem a quem amar?
Ali na estradinha em baixo da mangueira,
ainda hoje se vê a imagem triste,
do rouxinol que não mais voa,
cantando para maracujá sem flor no olhar.