O homem do chapéu de papel

Seu Manuel,
Não sei de onde ele vem,
Só sei que ele vende café.

Seu Manuel,
Carrega um chapéu de papel,
Que na menor das rajadas,
Voa pra longe da calçada
E eu surpresa pergunto o porquê
E sorrindo me diz que
A vontade é tanta que até o chapéu
Resolve se jogar ao léu,
Só pra sentir o que é voar.

Seu Manuel,
As seis já tá logo ali,
Vendendo o seu bom café,
E as vezes quando de bom humor,
Faz até um bolo de aipim,
Só pra mim,
E depois fala de amor,
Só pra descontrair e me fazer sorrir.

Seu Manuel,
Me conta que quer se jogar
No meio daquele samba
Que toca nas paradas de Belém.
Me conta que quer se matar
De rir junto com alguém,
Que quer voltar a ser criança.

Seu Manuel,
Passa o dia na beira das estradas,
Vendendo o seu café.
E quando ele quer,
Faz uma piada,
Ou te dá seu café
Sem um pingo de açúcar,
Só pra te fazer parar de reclamar
Das desilusões que tens com seu amor,
E é você quem lucra,
Por o escutar mesmo de mau humor.

Seu Manuel,
É um homem honesto,
Que há mais de vinte anos
Vem de lá não sei aonde,
E se esquece do resto
E de todos os seus planos,
Pra ouvir os teus prantos,
Pra te dar bons conselhos,
É Seu Manuel!
O homem do chapéu de papel.

Seu Manuel,
Um homem tão feliz,
Isso é ele que diz.
Gostaria de descobrir,
O sonho do homem do café,
Qual será que é?
Vive rabiscando um caderno
Sempre tão concentrado,
Mas de semblante eterno.
É tão querido e tão respeitado,
Sempre pensa nas pessoas,
Mas não diz o que ele quer.
Com intenções tão boas.

Seu Manuel,
Um dia eu descobri, depois de o observar.
O chamei pra ser padrinho do meu casamento,
Prometi à ele, teu sonho realizar,
Depois de tanto prestar-nos atenção,
Tanta cumplicidade e entendimento,
E tranquilizar teu coração.

Seu Manuel,
Homem trabalhador.
Não pôde ir,
Deixou – me a última música
Escrita em seu caderno.
Eu mal sabia,
Era homem compositor,
Comprei-lhe um terno
Que ele nem usou.
Em baixo de teu chapéu existia
O sonho de voar num avião,
Não nos contou,
Queria viajar pra mostrar o trabalho
De um homem de visão.
Ele voou.
Com seu chapéu, ele sorriu
E depois partiu.
É Seu Manuel!
O homem do chapéu de papel.


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*Samba*
Anna Julia Dannala
Enviado por Anna Julia Dannala em 02/01/2016
Código do texto: T5498328
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