A LIBERDADE do CONHECIMENTO e o CONHECIMENTO da LIBERDADE... "A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio". (Victor Hugo).
Apesar de Você
Chico Buarque
Exibições – 1.961.229
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não
A minha gente hoje anda
FALANDO de lado
E OLHANDO pro chão, viu.
Você que inventou esse estado/E inventou de inventar/Toda a escuridão/Você que inventou o pecado/Esqueceu-se de inventar/O PERDÃO.
Apesar de você
AMANHÃ há de ser
OUTRO DIA
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme EUFORIA.
Como vai proibir/Quando o galo insistir/Em CANTAR/Água nova BROTANDO/E a gente se AMANDO/Sem parar.
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse AMOR reprimido
Esse grito contido
Este SAMBA no escuro.
Você que inventou a tristeza/Ora, tenha a FINEZA/De desinventar/Você vai pagar e é dobrado/Cada LÁGRIMA rolada/Nesse meu penar.
Apesar de você
AMANHÃ há de ser
OUTRO DIA
Inda pago pra ver
O JARDIM FLORESCER
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo O DIA RAIAR.
Sem lhe pedir licença/E eu vou morrer de RIR/Que ESSE DIA há de VIR/Antes do que você pensa.
Apesar de você
AMANHÃ há de ser
OUTRO DIA
Você vai ter que ver
A MANHÃ RENASCER
E esbanjar POESIA.
Como vai se explicar/Vendo o CÉU CLAREAR/De repente, impunemente/Como vai abafar/Nosso CORO a CANTAR/Na sua frente.
Apesar de você
AMANHÃ há de ser
OUTRO DIA
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Lá lá lá lá laia.
Segundo a revista Bula, esta música é de 1970. Existe certo teor de poesia na composição. Percebe-se que é uma música “politizada”, direcionada ao regime militar vigente na época.
Cotidiano
Chico Buarque
Exibições – 515.480
TODO DIA ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da MANHÃ
Me SORRI um SORRISO pontual
E me BEIJA com a boca de HORTELÃ.
TODO DIA ela diz que é pra eu me cuidar/E essas coisas que diz toda MULHER/Diz que está me esperando pro jantar/E me BEIJA com a boca de CAFÉ.
TODO DIA só penso em poder parar
Meio DIA eu só penso em dizer não
Depois penso na VIDA pra levar
E me calo com a boca de feijão.
Seis da tarde como era de se esperar/ELA pega e me espera no portão/Diz que está muito louca pra BEIJAR/E me BEIJA com a boca de PAIXÃO.
TODA NOITE ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura ETERNO AMOR
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.
TODO DIA ela faz tudo sempre igual/Me sacode às seis horas da MANHÃ/Me SORRI um SORRISO pontual/E me BEIJA com a boca de HORTELÃ.
Segundo a Revista Bula a música é de 1971. Realmente a música COTIDIANO é cotidiana... Não deixa de ser uma música boa. No entanto, sinceramente, eu gosto de músicas mais alegres.
Construção.
Chico Buarque.
Exibições – 1.213.122
AMOU daquela vez como se fosse a última
BEIJOU sua MULHER como se fosse a última
E cada FILHO seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido.
Subiu a construção como se fosse máquina/Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/Tijolo com tijolo num DESENHO MÁGICO/Seus olhos embotados de cimento e lágrima.
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
DANÇOU e GARGALHOU como se ouvisse MUSICA
E tropeçou no CÉU como se fosse um bêbado.
E FLUTUOU NO AR como se fosse um PÁSSARO/E se acabou no chão feito um pacote flácido/Agonizou no meio do passeio público/Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.
AMOU daquela vez como se fosse o último
BEIJOU sua MULHER como se fosse a única
E cada FILHO seu como se fosse o PRÓDIGO
E atravessou a rua com seu passo bêbado.
Subiu a construção como se fosse sólido/Ergueu no patamar quatro paredes MÁGICAS/Tijolo com tijolo num DESEMHO lógico/Seus olhos embotados de cimento e tráfego.
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
DANÇOU e GARGALHOU como se fosse o próximo.
E tropeçou no CÉU como se ouvisse MÚSICA/E FLUTUOU no AR como se fosse sábado/E se acabou no chão feito um pacote tímido/Agonizou no meio do passeio náufrago/Morreu na contramão atrapalhando o público.
AMOU daquela vez como se fosse máquina
BEIJOU sua MULHER como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um PÁSSARO
E FLUTUOU no AR como se fosse um príncipe.
E se acabou no chão feito um pacote bêbado/Morreu na contramão atrapalhando o sábado.
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra NASCER e a concessão pra SORRIR
Por me deixar RESPIRAR, por me deixar EXISTIR
DEUS lhe pague.
Pela cachaça de GRAÇA que a gente tem que engolir/Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir/Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair/DEUS lhe pague.
Pela MULHER carpideira pra nos LOUVAR e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos BEIJAR e cobrir
E pela PAZ derradeira que enfim vai nos redimir
DEUS lhe pague.
Segundo a Revista Bula a música é de 1971.