SOB O SOL DE ABRIL

Quando criança
Eu nunca soube dos perigos da vida
Eu pensava que brincar com fogo
Era apenas chegar perto do fogão
Mas eu cresci e descobri obviamente
Que a chama tem nome, sexo, silicone, signo, ascendente e profissão
E mesmo machucado, queimado, frustrado
Continuei a me arriscar, tendo uma certeza tola
De que o raio ao menos demorasse
Pra cair no mesmo lugar
Mas quase nunca você tem razão
Brincar com fogo não é só derramar a panela do alto do fogão
E o que faço se não consigo ficar aqui parado?
Me esquivo no último segundo
Não deixo a água quente me acertar
Mas eu gosto de brincar com fogo mesmo assim
Gosto de sexo, silicone
Gosto de tentar adivinhar seu signo, ascendente
Vou andando com a mesma teimosia de sempre
Porque quem já está queimado
O grito de dor por sobre a brasa
Não passa de um suave cantarolar.