Simplesmente Um Sonho

Nascer pr’a que

Se não podemos escolher

Onde viver, onde sorrir

Quando amar, quando sentir

Que o coração realmente

é uma criança?

Nascer pr’a que

Se temos tanto medo de viver

E não nos deixam nem tentar fugir

Se trancam todas as portas e janelas

com ferrolho

Para que nossos olhos não vejam

o amanhecer?

É só covardia então

Tentar frear um sentimento tão

Suave como o amor?

Você ficou tão distante de mim

Não sei como acreditar

Que ainda vou poder falar

Tudo o que sinto por você.

É só um sonho

Nada mais que um sonho

É só um sonho

Simplesmente um sonho

Essa vontade de dizer

Que estou bem.

A minha escola é algo diferente

De tudo o que eu já vi

Eu falo de amizade e não entendem

Me sinto tão pequeno

Perto de tanta mente voltada pro futuro

Não sei se é porque eu não tenho futuro

Mas, tenho algo que o mundo não tem

Sou fascista e poeta

Sou exato e incorreto

Estou procurando não dizer tantas bobagens

Estou falando de mim mesmo em minhas poesias

Sou contra o preconceito

Mas, vivo num país racista.

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Essa letra é de 1999. Foi um ano muito difícil pra mim. Estava saindo da adolescência, precisava decidir entre ser um cidadão modelo ou um revolucionário. Fui obrigado a sair do colégio onde estudava. Era uma instituição privada e semestral, onde os alunos deveriam ter dezoito anos para concluir o ensino médio. Perdi pessoas muito queridas. Caras que nunca mais voltei a ver. Minha família resolveu me matricular em um dos colégios mais reservados e renomados de Belo Horizonte, o IEMG. Eu não queria. Estava apaixonado por uma garota de Nova Era (cidade onde cresci e me criei). Então tive que ficar em Belo Horizonte contra a minha vontade. Comecei a matar aula. Ia para o shopping ou ficava no parque municipal sentado em algum banco. Conheci o cigarro e outros vícios. Mais tarde entrei em depressão. Foi quando minha mãe descobriu que já fazia um mês que eu não aparecia na escola. Para mim era como se fosse uma semana. Perdi a noção de tempo, espaço, de tudo. Ficava deitado o dia todo. Pouco antes comecei a fazer tratamento com um psicólogo. Lembro que levei essa letra pra ele e ouvi: “É muito profunda”. Na época não fazia melodias. Em 2003 quando estava arrumando meu quarto, a encontrei guardada dentro de uma caixa com uns outros manuscritos meus. Resolvi musicá-la. Em 2005 formei uma banda com Barão na bateria, Ismael na guitarra e Vinícius no contrabaixo. Foi quando a ouvi pela primeira vez. O estranho é que não me emocionei.