O MENINO DA RUA TRÊS DE AGOSTO
São dias cinzas
Como o cinza dos belos grisalhos
São espantosos
Como os estilosos espantalhos
Não quero quebrar galhos
Nem ficar em frangalhos
Você é rei, é o senhor
Dos próprios atos falhos.
Ninguém se lembra do menino
Que não tem um rosto
Que passa assustado
Em frente à rua Três de agosto.
Que não tem sombra não
Que mora em um porão
Que não tem pai, nem mãe
Amigos, que não tem irmão.
Quem nunca ouviu falar
Da história de uma andorinha
Que já não é capaz de fazer
Um verão sozinha
Poderá entender
O que vivo a sofrer
Não sei o que é ganhar
Mas sou campeão em perder.
Quem não se lembra do menino
Que não tinha nome
Que não sentia frio, sede
Dor, saudade ou fome.
Que dorme onde der
Que venha o que vier
A vida não é fácil
Pra quem não sabe o que quer.
Quem não se lembra do menino
Morto na calçada
Que era um anjo
E que nunca reclamou de nada
Ele não tinha nome
Não tinha certidão
Era um ninguém
Qualquer talvez
Se chamasse João.
Quem não se lembra do menino...
Ninguém lembra mesmo...
Sua alma se perdeu no mundo
E agora segue a esmo...