CIDADE SEM LEI

De noite a cidade dorme

O sono dos homens de bem

Enquanto os meninos correm

Na louca do vai e vem

Trazendo na cinta coragem e respeito

O amor tatuado na perna, braço e no peito

Os olhos da cor do sangue que rola no gueto

Os meninos vão

De oito, dezoito, de doze

Dez de trinta e oito

E quando os meninos somem

Na cidadela sem rei

Apavorando os homens

No grito fazendo a lei

Trazendo em segredo

Bobagem e brinquedo

Zuando na rua quem passa

Metendo o dedo

Fazendo maluca desgraça

Espalhando o medo

Os meninos vão

De oito, dezoito, de doze

Dez, de trinta e oito

Galileu, já nasceu

Nunca viu escola

Com a vida aprendeu

Que o mundo rola

Pra um dia amanhecer

Fundo de sacola

Pra correr, Deus lhe deu

Pé com dura sola

Pra fugir da prisão

Que nunca demora

Pra morrer, muita fé

Quando for a hora

Pira peão, vira avião

Revira no chão, outros virão

Quando um pé acerta a bola

Transforma o menino em Deus

Desfile em carrão, cartola

No mundo que agora é o seu

Trazendo no peito

Medalha, sem jeito

O rosto estampado

Em jornal, TV, satisfeito

Enquanto a batalha

Prossegue dura no gueto

Os meninos vão

De oito, dezoito, de doze

Dez, de trinta e oito

Sangabe
Enviado por Sangabe em 26/09/2014
Código do texto: T4976524
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