CIDADE SEM LEI
De noite a cidade dorme
O sono dos homens de bem
Enquanto os meninos correm
Na louca do vai e vem
Trazendo na cinta coragem e respeito
O amor tatuado na perna, braço e no peito
Os olhos da cor do sangue que rola no gueto
Os meninos vão
De oito, dezoito, de doze
Dez de trinta e oito
E quando os meninos somem
Na cidadela sem rei
Apavorando os homens
No grito fazendo a lei
Trazendo em segredo
Bobagem e brinquedo
Zuando na rua quem passa
Metendo o dedo
Fazendo maluca desgraça
Espalhando o medo
Os meninos vão
De oito, dezoito, de doze
Dez, de trinta e oito
Galileu, já nasceu
Nunca viu escola
Com a vida aprendeu
Que o mundo rola
Pra um dia amanhecer
Fundo de sacola
Pra correr, Deus lhe deu
Pé com dura sola
Pra fugir da prisão
Que nunca demora
Pra morrer, muita fé
Quando for a hora
Pira peão, vira avião
Revira no chão, outros virão
Quando um pé acerta a bola
Transforma o menino em Deus
Desfile em carrão, cartola
No mundo que agora é o seu
Trazendo no peito
Medalha, sem jeito
O rosto estampado
Em jornal, TV, satisfeito
Enquanto a batalha
Prossegue dura no gueto
Os meninos vão
De oito, dezoito, de doze
Dez, de trinta e oito