Era a vida , era uma flor.
"Voando e revoando, era a vida, era uma flor", esta oração pertence a Machado de Assis , o maior escritor brasileiro, e dele tomei emprestado o início e o título desta canção ,de agosto de 2006. Machado a menciona na poesia " A mosca azul" , linda , poética e antológica, das "Ocidentais" , apesar de não haver escrito a música sobre o tema desse querido escritor, acho a frase maravilhosa, não sei bem porque, mas é assim que a sinto. Na poesia machadiana a mosca azul sai de dentro da flor, como se fosse a vida, e se apresenta ao matuto , que a destroi para desvendar os seus segredos, e o autor alerta para o fato de destruirmos tudo aquilo que não compreendemos.
Fiz um arranjo em "Lá menor" , que me deu trabalho, mas cujo resultado foi compensador. Trabalhei com esmero e dedicação, queria uma letra a altura da melodia, fazendo uma introdução compassada e forte no violão, e que reaparece ao longo da música ,para mantê-la viva, em seguidos ensaios solitários , até a definição que me agradasse.
"Rotas pro horizonte, no canto de um trovador", a vida sempre segue um curso constante e natural, que são as rotas pro horizonte, com a trilha sonora que quisermos lhes dar, isso é de cada um.
Queria uma letra bem brasileira, que se perdesse num Brasil colonial, com elos do agora, como o açoite que fere as pessoas de todas as cores , o açoite que se transfere das costas dos escravos a dos oprimidos.
" Riso de amor e dor", é um riso nervoso, apreensivo e verdadeiro, e que muitas vezes nos vemos obrigados a dar para sobreviver, mas é um riso vassalo e as vezes até tolo. Um alerta para que não se venda o espontâneo, para que sejamos vigilantes quanto a isso.
A verdade que se renova nas crianças, sem falsidades, e que as insiro nas praias nordestinas, representa a esperança no país e na humanidade.
O encanto das mulheres morenas, brasileiras, "sementes de girasol", filhas do campo e do sol, a agreste mistura de índios, negros e brancos, com a sensualidade descrita por Jorge Amado, a brejeirice mencionada por José de Alencar, e as misteriosas "Capitus" de Machado, que tanto nos acompanham pelos Brasis da literatura.
Utilizo nuâncias andaluzas e árabes, porque o nordeste também as tem, e a faço num poema cantado, o meu " cârmine", com um refrão que convida ao canto, do tipo que gruda, e que agrada de cara , mesmo não sendo tão comum.
A minha esposa cantou o refrão junto comigo na gravação que fizemos, ela gostou muito, sentiu a música logo de cara, o "Teko" ( músico de percussão, e já falecido ), tocou cajón , e o Dan fez os riffs , já que deixei espaços para isso. A todos, o meu agradecimento , pois fizeram o melhor.
O arranjo, como disse, é só meu , exatamente como o escrevi, eu não sou de permitir infiltrações, pois acredito que a música é uma criação do autor, e que tem elementos do sentimento único do autor, e não só na letra, mas no todo. O Dan fez um solo muito bonito para preparar a entrada da segunda parte, mas confesso que o desfecho árabe não é meu, foi criação do Dan, e que deste vez teve a minha permissão.
" Voando e revoando
Era a vida , era uma flor
Rotas pro horizonte
No canto de um trovador
Lua da meia -noite
Risos de amor e dor,
Couro de um açoite,
Gente de toda a cor
Crianças correndo solta
Sem medo do amanhã
Praias de Pernambuco,
Dunas do Ceará
Moças de encantos brejeiros,
Sementes de girassol
Nuvens cobrindo a caatinga
Depois de um dia de sol " ( 2x) .