Vinte e Dois Anos
Por vinte e dois anos, vivemos juntinhos,
Trocamos carinhos, e eu era feliz,
Mas num temporal, tudo escureceu,
E então se perdeu, tudo aquilo que eu fiz.
Rompeu-se o amor e machuca demais,
E os meus tristes ais, nesta solidão,
Somente a lembrança e também seu retrato,
De um amor ingrato que é a minha paixão.
Cantando eu vivia, alegre sorrindo,
E um amor infindo a comemorar,
Pegava o violão e cantava pra ela,
E a prenda mais bela, ficava a escutar.
Depois fui sabendo que o meu grande amor,
Não dava valor ao meu amor de agora.
Vivia somente pra minha ilusão,
Mas pro seu coração eu já era de outrora.
Trabalhando sempre e saindo de noite,
Sentido o açoite da brisa em seu rosto,
Foi me esquecendo e talvez nem sabia,
Ou então não queria me dar mais desgosto.
Mas como na vida, tudo é descoberto,
O errado ou o certo, um dia se sabe,
As pedras rebentam e o ferro enferruja,
O aço se suja antes que se acabe.
Em vinte e dois anos, tudo lindo era,
E nesta primavera, seu amor morreu,
Meu filho querido, chorando a tristeza,
E no peito a incerteza, no dele e no meu.
Gedeão Cavalcante.