Talvez compreenda.
"Talvez compreenda" é uma canção que fiz em março de 1997, e naquela época eu trabalhava no "Centro Empresarial de São Paulo", no bonito centro comercial ,com lojas , bancos e restaurantes. O melhor lugar em que já trabalhei na vida. Foi um bom ano !
Esta canção fala do prisma de ver e também se ver, da confiança , da auto-estima , a hulmidade e a falta de tê-la , desfigurando o que de fato somos, e de certa forma um " mea culpa" , nesta reflexão.
_ Cai na "real", você está se refletindo nos outros, você não é diferente de ninguém, não é melhor , engula a arrogância, não copie , seja você mesmo, o que de fato aprendeu até aqui, mantenha os pés no chão.
Questiono diferanças e igualdades da mesma maneira, e nada tem haver com preconceitos, pois não os tenho . Refiro-me ao constante jogo das dualidades, a visão do ser e do sentir , de dentro para fora.
_ Desça do salto, você é tão importante quanto eu, sou frágil também, quando agrido, me agrido , pois estou me punindo por não entender como deveria , por estar colocando a minha cegueira sobre a sua visão.
As vezes me sinto um rei, sabendo que sou um plebeu, porque o espelho reflete o que imaginamos ser e não o que somos realmente , o que gostariamos de ser e não somos, tendo então a imagem invertida sem deixar de ser o que se vê.
Quando falo da janela do trem , é a visão do outro sobre você , a zona de conforto, a ação e a reação, e é nesta hora que tudo se aclara , saindo do torpor para a lucidez.
O rei não é tão real quanto parece, e nem o plebeu tão vulgar, e como parte que me cabe, assumo as vitórias e os fracassos na justa medida.
O lado esquerdo do amor, é o amor verdadeiro, pois se estamos olhando um espelho a imagem invertida é a verdadeira.
"E da janela do trem, você me olhava passar..." Esta foi uma das primeiras idéias que me veio para compor a canção. A sensibilidade , tentar ver além da visão, o altruísmo . A cadência sobre os trilhos, o rítmo constante , caminho determinado , sem surpresas. Não virar o rosto para o que está do lado de fora, se permitir ver e analisar com o coração. _ "Mesmo que estou ao relento, e sinto frio aqui fora, sei que estás me vendo".
As cartas do baralho falam do rei e do ás, representam a hierarquia, desumana e mal utilizada pelos homens, disfigurando e corrompendo em nome de um jogo que nunca termina, e por isso não se tem vencedor . A auto-preservação nubla a visão, enfraquece a compaixão e nos torna hipócritas e desnutridos de valores. Somos vítimas e culpados igualmente, e vez por outra nos lançamos sobre pedras .
" Talvez eu seja um rei, ou a ilusão de um plebeu
Será que o espelho sou eu
No lado oposto do seu ?
E da janela do trem, você me olhava passar
Remando contra a maré
Ou flutuando no ar
Talvéz eu seja um rei, ou ás
Da ilusão de um plebeu, vulgar
Será que o espelho sou eu,
Do lado esquerdo do teu, amor ? "