COTIDIANO e SEM AÇÚCAR - CHICO BUARQUE
NO INÍCIO DA MADRUGADA DE 22 DE JUNHO DE 2014
No dia 19 de junho Chico Buarque completou 70 anos. Um dos maiores compositores da Música Popular Brasileira, uma das características de seu trabalho é dar voz a mulher, à condição feminina no amor. Gravei e postei no Áudio uma canção dele em que isto fica bem claro, a “Sem Açúcar”, antecedida por “Cotidiano”, na qual é o homem quem fala. Claro que Chico não pretende fazer uma leitura “universal” da relação amorosa entre os dois sexos; de todo modo, uma leitura que cabe bem para uma parcela da população feminina, bem como da masculina. Seguem-se as duas letras. Quem tiver interesse ouça ambas no Áudio, em uma única gravação.
Cotidiano - Chico Buarque
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Sem Açúcar – Chico Buarque
Todo dia ele faz diferente, não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente, não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido, quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido, ou nem me adivinha os desejos
Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo
A cerveja dele é sagrada, a vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada, sua risada me assusta
Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira
Enquanto ele dorme pesado eu rolo sozinha na esteira
E nem me adivinha os desejos
Eu de noite sou seu cavalo