Tributo a ZÉ FORTUNA E PITANGUEIRA

Esta relíquia da autêntica música sertaneja...deve ser cultivada...enquanto somos bombardeados por cânceres musicais....que envergonham a nosso CULTURA, nos dias atuais.

José Fortuna - grav. Zé Fortuna e Pitangueira)

Esta são algumas cenas da peça de José Fortuna “A Seca do Nordeste”, gravadas no LP “Teatro e Música”. Interpretaram estas cenas: José Fortuna no papel de Orozimbo; e Meire Vieira no papel da avó.

Orozimbo:

- É. Fais trêis ano que num chove no sertão e nóis vamos morrê tudo esturricado aqui, vó. Vó, acorda, vó. Eu tenho medo de ficar acordado sozinho, vendo aí fora as gaiada seca parecendo caveira, se alevantando da sepurtura do sertão. Acorda, vó.

- Avó:

- Hein? O que foi meu neto?

Orozimbo:

- A sinhora drumiu, vó?

Avó:

- Sim, meu neto. Drumi e sonhei que tava no céu mandando chuva pro sertão.

Orozimbo:

- Chuva pro sertão? A senhora disse, chuva?

Avó:

- Sim, meu neto. A depois deste sonho, eu tenho certeza que quando eu morrê vai chovê no sertão.

Orozimbo:

- Bobage. Chove não.

Avó:

- Quando eu morrê vai chovê no sertão. Vai chovê no sertão.

Orozimbo:

- Hein. Será verdade?... Sim, então se a gente agora... não, eu não posso fazê isso, não.

Avó:

- Vai chovê no sertão. Vai chovê no sertão.

Orozimbo:

- Sim. Às vêis pode dá certo. Então, se a gente agora com este lenço em seu pescoço, ela não ia sofrê quase nada, era só apertá... apertá... Vó, eu vô enxugá o suó do rosto da senhora...

Avó:

- Brigada, meu neto.

Orozimbo:

- É agora. É só apertá... apertá...

Avó::

- (gritando) Ai, ai, ai...

- (som de trovão)

Orozimbo:

- Hein, tá chuvendo? Tá chuvendo no sertão? Venha vê, vó. O quê? A vó não responde. Sim, agora me lembro. Eu matei vó, eu matei vó, eu matei vó!... Chuva, você é a curpada. Chuva, pruquê demorô tanto prá chegá.. agora não preciso mais de ocê. Proquê num me mata também? Vamo, tô esperando, me mate também, me mate também...

- (som de um raio que cai matando Orozimbo).

PARTE CANTADA:

Lá no sertão esturricado pela seca, todo o Nordeste parecia um fogaréu

os galhos secos desfolhados pareciam braços abertos apontando para o céu

até que um dia uma velhinha teve um sonho, que se encontrava entre as nuvens na amplidão

de lá mandava chuva branca que caia molhando toda a terra seca do sertão.

Quando acordou disse a velhinha para o povo, só vai chover neste sertão quando eu morrer

para minh’alma poder ir lá para o céu, e pedir chuva pro Nordeste florescer

todos sorriram das palavras da velhinha, porém seu neto na vovó acreditou

pra ver chover aquele homem alucinado foi escondido e a velhinha assassinou.

E no momento que a velhinha agonizava, um estrondo forte de um trovão estremeceu

choveu na hora e o rapaz arrependido por ter matado revoltou-se contra Deus

caiu um raio fulminando o assassino e até hoje aquele povo não entendeu

que aquela era uma alma milagrosa reencarnada na velhinha que morreu.

zé fortuna e pitangueira
Enviado por ulissespinto em 05/02/2014
Código do texto: T4679005
Classificação de conteúdo: seguro