Toda vez que eu abro a boca

Eu não sei o que foi que ele viveu.

Ele batia muito forte.

Eu crescia isolado.

Não falava com ninguém na escola.

Eu tinha problema de fala.

A psicóloga falou que era trauma de infância.

Ele jogava ela contra a parede e batia forte.

Ninguém podia o segurar.

Ela pedia pra ele parar e ele não parava.

Eu chorava muito e não conseguia falar.

Eu falava errado e zombavam de mim na escola.

Eu não sabia a diferença entre a tristeza e a depressão.

Tudo começava na discussão por falta de dinheiro.

Eu não queria nada demais:

Um caderno pra desenhar

Os heróis que viriam salvar minha Mãe.

Minha Mãe gritava

E os heróis nunca apareciam.

Toda vez que ela pedia pra ele parar

As pancadas ficavam mais fortes.

Eu não quero ficar me lembrando.

Mas eu ainda falo errado.

Então toda vez que eu abro a boca

As palavras vêm carregadas de pancadas.

Ela pedia pra ele parar.

Os heróis nunca apareceram

As pancadas ficavam mais fortes.

Ramon Catarse
Enviado por Ramon Catarse em 01/02/2014
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