Girassóis

Quando a vista fere

E a alma se dói

O corpo se ajeita

E o peito corrói

Há linhas à esquerda

Enlaçam em ponte

E veste soberba

Lá do horizonte

Chamas abalam

Céus dormitados

Povos que acordam

Sobressaltados

Latidos

Gemidos

Risos estridentes

Gestos temidos

Farsas de gentes

Lousas tingidas

Em carne e fulgor

Almas despidas

Febre de amor

Girassóis à porta

Ao alto, à varanda

Rindo-se da sorte

Que anda e desanda

Girassóis à solta

Na velha lembrança

À volta, à volta

A ver se me alcança.

É verde o sinal

Que finge de morto

Além no pinhal

Da vida absorto

Se deita e embala

Na linha do norte

Que ninguém se importe

E o vento cala

Na minha direita

Os fungos vomitam

Do medo da seita

Não se acreditam

Girassóis à porta

Ao alto, à varanda

Rindo-se da sorte

Que anda e desanda

Girassóis à solta

Na velha lembrança

À volta, à volta

A ver se me alcança.