E AGORA DRUMOND?

Eu sonhei

que o povo todo agora era melhor,

que agia como se fosse um robô,

sem contestar como um computador...

Caminhei

nas ruas cheias sem ninguém me olhar,

que povo é este? onde é este lugar?

e afinal, meu Deus!, onde é que estou?

Perguntei

onde a amizade fora se esconder,

mas ninguém ali sabia responder

pois a amizade não tinha valor.

Encontrei,

como o poeta, um homem qualquer

que me ouviu, se chamava José,

mas nada disse quando perguntei:

Ei José!

de que me serve ser computador,

se chips não podem sentir amor,

se vídeo só nos mostra solidão?

Ei José!

o que é que eu faço p’ro povo mudar,

como é que eu ensino esse povo sonhar

se ninguém mais quer sentir emoção?

Procurei

inutilmente um jardim, um bar

onde um amigo pudesse encontrar

p’ra dividirmos a imensa aflição...

Não achei.

Ninguém parava mais p’ra conversar.

Ninguém mais tinha tempo p’ra sonhar

porque sonhar é ir contra a razão...

Desisti,

os pés cansados pela caminhada...

A dor aguda do encontro do nada

varreu minha alma feito um furacão.

E José!

Ali comigo sem nada falar...

E sem amigos, sem jardim, sem bar,

a vida já não tinha ilusão.

Ei José!

de que me serve ter um coração

se todo mundo vive da razão,

se ninguém mais quer saber de ninguém...

Ei José!

o que é que eu faço do amor que guardei

se hoje amar é quase contra a lei

e José não me respondeu também...