Suíte do Gravatá
Suíte Gravatá
(Flor do gravatá)
inDeus que água marcava pedra
desde as antigas sesmarias
viver é muito lento vagar
rasgar o véu do dia que medra
longamente resistir tiranias
do tempo, sempre inclemente
dos homens, suas suseranias
InDeus que vago-ago na terra
cumprindo estranha romaria
rompendo seca, cercos, serras
esperando quando um lugar
onde o corpo arrancharia
pensar em criar raiz na pedra
feito a muda luda do gravatá
InDeus que peguei a rodar mundo
veja promessa imersa e lição
no céu que abre imensidades
fundo das águas do riachão
a sombra de quem vem morar
um dia romper o cerco dos braços
abrasar a brasa do coração
Ei, baixa do São Domingos
ei, correntes do Rio Verdão
o amor que acena feito esfinge
que ela esfinge-finge que não vê
abrir a plataa viva
que lembram as costelas de Adão
abrir a moita dos gravatás
eito leito de duro muro coração
Ai, riquezas do bem querer
Ai, querer sem ter ou não ter
faíscas do olhar que pode matar
espinhos rubros do gravatá
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(Flor de laranjeira)
Se alevanta mastro de bandeira
e olha, a laranjeira floresceu
na colheita a tulha entornou
capim do pasto já amareleceu
balsamo e cheiro nos meus cabelos
água de cheiro, pó de arroz e batom
cadê o príncipe belo, primeiro
que virá, festeiro, desposar de eu?
Olha as chuvas se retiraram
olha foi o olho que marejou
na vagueza lente do sol poente
e do céu de lua e astros vieram
ou ficaram nas imensidades
- água de cheiro, rouge e batom
cadê o príncipe bom e lisonjeiro
que vem, ligeiro, desposar de eu?
Indeus que mudou minhas luas
Que é só pensar, santa Maria
de alguém que também queria
ser um pedaço, pouquim de eu
Anel no dedo, punhal na cinta
a cavalo, inteiro e ligeiro
depois de espera, um ano inteiro
e desposar de eu
Lenço apenso, colônia Royal Briard
a cavalo, em pelo, lisongeiro
depois de espera, tanta quimera
e se abarcar de eu
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(Bodas)
Na festa do Divino
foram três santos louvados
novenas e penitências
novenários e pecadores
levavam flores de São José
lá no altar, dar a nosso Senhor
em honra da graça da colheita
sem mais pedir, só agradecer
arroz, feijão, milho, araruta
mandioca, cará, açafrão
pimenta, abobora, batata
quiabo, cuentro, alho, gengibre
pequi, morula, minduim
café, angelim, banana, jotabá
abacaxi, maracujá
ora pro nobis, cana e limão
Ô senhor dono da casa
Ó, senhora mãe da famia
façam a despesa da mesa
pra casar a mais moça das fia
punhal de prata e trinta na cinta
anel de ouro e beijo em sinal
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(Fuga - Instrumental)
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(Boca da noite)
Paturi sessou o nado
Carcará emudeceu
e no espelho do lago
céu lanço empalideceu
Na espera vespertina
só cantam as juritis
e nos olhos, nas retinas
o tudo de descobrir
nas penas da estrada
só a lua nua, nada
até a boca da noite
cintilante e calada
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(Gravatá)
Sol de agosto pela campina
na Canastra estendeu tendel
quadra de dias de luta insana
marcada em páginas deste céu
a flor do amor é a soberana
o amor é a flor mais humana
que entre formas e flores desceu
de perto é gomo de vida sana e real
mas, de longe, onde tudo irmana
parece bem um intrincado cordel
doce mais doce que a rama da cana
beijos volados de abelha bejui
da nossa história camperejana
nossa cara cabana e forte é aqui
nos contrafortes da velha Canastra
de onde o céu que se vê – se levanta
o vale que se agiganta até o Corrente
dentre teu ventre nosso bendito fruto
belos campos, serranias, chapada
casa guardada por prece e parabelo
Ê-ei, pelejar andar
ê-ei, parir, virar, andar
ê-ei marcas na pele queimada
ê-ei baixadão e invernada
onde o sol é que lava pedra
onde é pedra que sustenta planta
e o doce só urtica entre espinhos
bela fruta dela e minha, gravatá
Se-Gyn
- Goiânia, 03.10.2013 – 16:53h.