Quarto dia
Os três dias de folia, de cachaça e poesia, já chegaram ao fim.
Olho em torno da Avenida e não vejo a bateria. O que restou pra mim?
Arquibancada está vazia, tudo é só melancolia. O sonho acabou.
E na passarela, nem Salgueiro, nem Portela, só você e eu.
Desfilei no carro chefe, muito luxo e confete, onde eu era um rei
Num castelo de diamantes, com mulatas provocantes, tudo o que sonhei.
Hoje volto ao meu barraco, lá no morro do Farrapo, o sonho acabou.
Quatro horas da matina a buzina lá na esquina me chama pra trabalhar.
Caminhão de bóia-fria, me traz pra realidade, não dá pra cantar.
Mais um dia angustiante, sob um sol estonteante, chega ao fim, vou descansar.
Chego em casa à noitinha, abro a porta da cozinha, você vem se lamentar:
“Falta leite pras crianças”, me falta até esperança. O sonho acabou.
E na passarela, nem Salgueiro, nem Portela, só você e eu.
Lembro o luxo e o confete, que no choro do pivete, desapareceram.
Assim vai o ano inteiro: vai dezembro... vem janeiro... minha escola a ensaiar.
Samba enredo, alegria, minha vida à fantasia, já dá pra cantar.
Deixo o choro no barraco, lá no morro do Farrapo, o sonho começou.
E na passarela, tem salgueiro, tem Portela, tem você e eu.