Funerea Canticum
Corpos revestidos de negro passam diante dos meus olhos
Carregando um corpo pálido, de olhos cansados
Que de certo nunca viveram como gostariam
Cânticos fúnebres embalam a tormenta coletiva
O que é maior, o medo ou a dor?
A dor da perda nem se aproxima do medo da morte
(e o que resta ao homem que não se mantem forte?)
Sentado, me mantenho inexpressivo, assistindo a cerimônia mórbida
O padre abre um livro, que chama de verdade absoluta, a verdadeira conduta
Exposto, o corpo morto nem pode expressar tamanha ironia
Pois durante a vida, do mesmo livro ria, sem medo do que viria
As mãos aflitas jogam flores, e com vozes desesperadas
Partilham dores, questionando veemente o criador
"Por que os bons se vão tão cedo, e afinal, qual o segredo
Para que vivamos tanto, sem praticar o SEU bem?
Caminhamos por vales escuros, e morremos nesse mundo
Na esperança de um dia encontrar algo melhor"
A voz cala.
O padre recomeça os ritos, e em meio a tantos jazigos
O homem é só mais um,
A família se une em oração, e num laço enorme de mãos
Assistem o corpo lentamente descer(ou deveria dizer subir?)
As marcas em seu pescoço, não mentem o seu desgosto
E os seus olhos gelados apontam seu futuro lar
Assisto a terra cobrir o túmulo
e num silêncio agudo
Despeço-me do corpo que uma vez foi meu.