DEPOIS EU PAGO !
DEPOIS EU PAGO !
I
Meu pai sempre me dizia
que a Vida era como um lago
que uns atravessam nadando,
outros de barco emprestado.
Quem pode e tem lancha rica
vai navegando sentado
e o povo... "como é que fica"?!
Tem que pagar o translado.
Meu pai, que era bom sujeito,
me ensinou bem o seu jeito...
que é dizer "depois eu pago"!
I I (refrão)
Eu nunca fui caloteiro,
por isso faço fiado.
Devo no Brasil inteiro,
mas digo "depois eu pago"!
I I I
Comprei ontem carro velho,
'tava todo enferrujado,
não tinha vidro nem porta,
o "capô" 'tava amassado.
Puz a mulher no volante,
para ir até o mercado.
Ela bateu bem de frente
num carro chique, importado.
Era o "xodó" do prefeito
e eu, vendo o estrago feito,
lhe disse: "depois eu pago"!
I V
Eu vou à feira aos domingos,
levo a família ao meu lado,
dou banana a cada um
pra não ficar mal falado.
Compro meio jerimum,
1 pepino, 2 quiabos,
3 xuxus, 4 cemouras,
pra fazer um ensopado.
Verdura eu pego no chão...
se me cobram de antemão
eu digo: "depois eu pago"!
V
No dia em que eu morrer
já deixei escrevinhado
ao coveiro e carpinteiro
como vou ser enterrado,
até porque quero ser
um defunto caprichado,
cabelo e unha perfeitos,
bem cheiroso e barbeado.
De gravata e belo terno,
assim que chegar no Inferno
eu juro: "-- Depois eu pago"!
"NATO" AZEVEDO
(OBS: a melodia "passeia"
entre o fandango e o xote)