PAULISTAS

“...é garantido o direito de propriedade;”

(Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CAPÍTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS, TÍTULO II,

Dos Direitos e Garantias Fundamentais - ITEM XXII -])

No trenzão as portas já vão se abrir

Com um milhão de corpos prontos prá invadir

Seu jardim, onde você plantou com seu tostão

Florestas do Brasil.

Voce sabe quantas vezes eu procurei

Um emprego e não achei

Conta como se faz prá trabalhar

Neste pais de cartas marcadas

Um jogo sujo “rola” à vontade

Se a Paulista explorou os seus “peões”

Quem restituiria os nossos milhões?

Me cansei de tentar entender essa equação

Que escraviza o Brasil.

Essa paródia surgiu inteira, de uma vez, após desembarcar-me de um trem aqui na periferia. Estava-me a original do Eduardo Gudin na memória, incomodando sem arredar pé. Então começou a surgir palavras que foram se encaixando do modo que está aí. É que vinha pensando sobre como a letra original mistura amor cortez com glamour burgues.Sendo a avenida Paulista o centro financeiro de São Paulo e os Jardins o lócus privilegiado da sua burguesia capitalista, a musica retrata o romance vivido numa regiao paulistana onde vivem os que exploram a grande maioria trabalhadora da cidade que não tem carro para ir e vir e que, por isso, submete-se a jornadas de trabalho recheando ires e vires em trens lotados por anos a fio. Uma possivel origem dessa desigualdade, entre outras, mas oficial, é a redação aprovada e em vigência da Constituição. Pra mim, como pode uma Carta Magna defender ainda o direito à propriedade privada do jeito que nela está? Sem regulamentação alguma que distribua as riquezas de modo mais igualitário. Que o Capital cínico debulhe suas regras de exploração já é inaceitável, agora, uma constituição federal redigida por homens públicos representantes de Estado defender a propriedade privada com extremos tão opostos, não seria possível ao homem descer mais em sua escala rumo à barbárie.

SP / 09 de maio de 2013