Sonata Prateada

Eu sou a neve que cobre os altos montes

Que tinge de branco uma paisagem destinada à escuridão

Caindo sobre as rochas que me deixam observar os acontecimentos por outro ângulo

De cima: de modo frio, paciente e indiferente

Ainda que os que vivem por baixo julguem que sua visão é a correta.

Eu sou a chuva que molha os gramados de um jardim intocado

Que derrama sobre a terra suas virtudes e seus pecados

Aliviando o ardor que nasce no coração dos homens

E que transbordam em seus corpos invisivelmente incinerados

Direcionando-me de volta ao início: junto aos rios, oceanos e em singelas lagunas

Esperando pelo dia em que me juntarei às nuvens, trazendo uma leve tormenta prateada.

Eu sou o sangue que circunda pelo corpo dos vivos

Que traz vitalidade e saúde àqueles que a cultivam

Traçando trajetórias por tecidos e órgãos igualmente importantes

Necessários, essenciais e indispensáveis

Ainda que por mim também possam passar os letais venenos.

Eu sou a loba solitária que corre livremente a frente da alcateia

Circundando e desvendando os segredos dos grandes montes e da natureza

Temida, sagaz, impetuosa e perseguida

Levada pela visão distorcida que têm por eu ser uma predadora

Esquecendo que tenho um coração que desvanece

Por ainda clamar incessantemente pelo perdão que me é negado.

Eu sou aquela que está em todos os lugares, a espectadora jogada ao seu silêncio

Que observa com o olhar impassível aos acontecimentos escritos por nós

Temendo a ira de Deus por pecados que pensamos que estavam perdoados

Ainda que se repitam por todos os momentos em que regemos a História

Estou em tudo, não porque possuo um grande poder ou por ser imortal

Mas pelo fato de que permaneceremos vivos na terra, essa que nos consome

Eternizados pela memória daqueles que contarão nossos feitos e nossas atrocidades

Até o momento em que recuperaremos os fragmentos perdidos em nossas vidas passadas

E renasceremos como os seres mortais que compõem o mundo

Até a vida quebrar-se e deteriorar-se diante das mãos do tempo

Concluindo assim a fábula metodicamente elaborada pelo destino.

Dandara Marques
Enviado por Dandara Marques em 08/05/2013
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T4280866
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