Expresso trem de fumaça
Elvira criara o filho
João Sacristão
para ser um exemplo.
Mas o menino saltando da palma da mão
embrenhou-se no tempo.
O vento levou João na contramão
e a palma de onde o dito saltou sem paraquedas
com a outra foram elas
a dona das duas rezou.
E foi uma reza sem proveito algum
porque lá na esquina
servil e pantera
sorria-lhe aquela por quem se apaixonou
Se era bonita
a beleza andava
assaz escondida.
Aliás, fato sem importância
o objeto da ânsia
era a viagem de ida.
E foi de cavar bem fundo, o poço
que um dia o moço afinal sucumbiu.
Enquanto aspirava a dama
o contorno da cama
eram as águas do rio.
Dizia: que barato, meu amor, tua fumaça!
Quem há de tomar por desgraça
o que faz parte de mim?
Que lhes importa se me deito nos trapos
se transformo em farrapos
antigos lençóis de cetim
Elvira criara o filho
João Sacristão
para ser um exemplo.
Mas um exemplo de que,
para quem, de antemão,
sabe sequer a que veio?