É difícil
Vou falar o que é difícil pra cidade e pro sertão
É difícil um lavrador que não tem calo na mão
É difícil cascavel dar o bote a traição
É difícil um adolescente sem amor no coração
É difícil um violeiro por mulher sentir paixão
É difícil no sertão existir a falsidade
É difícil uma grã-fina que não tenha vaidade
É difícil um prisioneiro que não queira a liberdade
É difícil um milionário do pobre ter piedade
É difícil pra quem ama nunca sentir saudade
É difícil ver um laço que seja feito de embira
É difícil um malandro não saber falar na gíria
É difícil um violeiro que não dance a catira
É difícil quando eu brigo valentão que não dá o pira
É difícil onde canto que o povo não admira!
É difícil um poeta não ter verso na cachola
É difícil uma gorda quando anda não rebola
É difícil um mendigo que não viva de esmola
É difícil uma cigana não usar brinco de argola
É difícil ver um negro que não seja bom de bola!
É difícil uma criança que cresça sem traquinar
É difícil uma mãe por seu filho não chorar
É difícil um ladrão que não pare de roubar
É difícil um vagabundo que goste de trabalhar
É difícil os meus pagodes que não sejam de abafar!
Este pagode eu fiz há muitos anos atrás. Eu já nem me lembrava mais.
O meu tio, João Godoy, trabalhava numa firma, também não me lembro o nome; só sei que ficava situada na vila Leopoldina, em são Paulo. Disse-me que tinha um amigo que tinha uma dupla e cantava na rádio. Eles gostavam muito de pagode sertanejo. Se eu fizesse um, eles gravariam se houvesse possibilidade.
Dei a letra para meu tio com toda confiança. Meu tio me garantiu que o cara era honesto e famoso. Não iria de maneira nenhuma me sacanear.
Fiz a letra e o Zé da viola colocou a melodia. Ele formava uma dupla com o Nininho. Moravam em Sabaúna. O Nininho era casado com minha prima. Eles cantavam em shows e diziam que a música
era deles.
Um dia liguei o rádio e sintonizei na rádio América, e ouvi uma dupla, muito bem afinada por sinal, cantando o pagode é difícil.
O nome da dupla: trovãozinho e maranhão. Os caras de pau também cantavam e diziam ser os autores da mesma. Se eles ganharam dinheiro com essa música, não sei. Só sei dizer que nunca mais ouvi falar nem de Zé da viola e Ninhinho, e nem trovãozinho e Maranhão.
Ah, como eu gostaria de ver eles discutindo quem é o verdadeiro letrista que escreveu essa música!