Carmina Burana - O Fortuna
Carmina Burana - O Fortuna
O fortuna,
Velut luna
Statu variabilis,
Semper crescis
Aut decrescis;
Vita detestabilis
Nunc obdurat
Et tunc curat
Ludo mentis aciem,
Egestatem,
Potestatem
Dissolvit ut glaciem.
Sors immanis
Et inanis,
Rota tu volubilis
Status malus,
Vana salus
Semper dissolubilis,
Obumbrata
Et velata
Michi quoque niteris,
Nunc per ludum
Dorsum nudum
Fero tui sceleris.
Sors salutis sorte,
Et virtutis
Michi nunc contraria,
Est affectus
Et defectus
Semper in angaria;
Hac in hora
Sine mora
Corde pulsum tangite,
Quod per sortem
Sternit fortem
Mecum omnes plangite.
O Fortuna
Oh, fortuna,
Variável como o
Estado da lua,
Sempre crescendo
Ou decrescendo;
Vida detestável
Agora oprime
Depois alivia
Brinca com o desejos das mentes,
Pobreza,
Poder
Dissolves como gelo.
Destino monstruoso
E vazio,
Tu, roda volúvel,
és malevolente,
Bondade em vão
Que sempre leva a nada,
Obscura
E velada
Também me amaldiçoaste;
Agora - por diversão -
Trago o dorso nu
à tua vilania.
O destino da saúde
E virtude
Me é contrário,
Dás
E tiras
Sempre escravizando;
Então agora
Sem demora
Tange essa corda vibrante;
Já que o destino
Extermina o forte,
Chorais todos comigo.
Link: http://www.vagalume.com.br/carl-orff/carmina-burana-o-fortuna-traducao.html#ixzz2KBSCmcIe
Carmina Burana
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Os carmina burana (do latim carmen,ìnis 'canto, cantiga; e bura(m), em latim vulgar 'pano grosseiro de lã', geralmente escura; por metonímia, designa o hábito de frade ou freira feito com esse tecido) são textos poéticos contidos em um importante manuscrito do século XIII, o Codex Latinus Monacensis, encontrados durante a secularização de 1803, no convento de Benediktbeuern - a antiga Bura Sancti Benedicti, fundada por volta de 740 por São Bonifácio, nas proximidades de Bad Tölz, na Alta Baviera. O códex compreende 315 composições poéticas, em 112 folhas de pergaminho, decoradas com miniaturas. Atualmente o manuscrito encontra-se na Biblioteca Nacional de Munique.
Carl Orff, descendente de uma antiga família de eruditos e militares de Munique, teve acesso a esse códex de poesia medieval e arranjou alguns dos poemas em canções seculares para solistas e coro, "acompanhados de instrumentos e imagens mágicas”.
Índice
• 1 O códice
• 2 A cantata
• 3 Bibliografia
• 4 Ligações externas
O códice
O códice encontrado em Benediktbeuern continha poemas dos monges e eruditos errantes — os goliardos —, quase todos escritos em latim medieval, exceto 47 versos, escritos em médio-alto-alemão vernacular e vestígios de frâncico. Um estudioso de dialetos, Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção em 1847, dando-lhe o título de “Carmina Burana”, que, em latim, significa “Canções de Benediktbeuern”.
Acredita-se que todos os poemas fossem destinados ao canto mas os copistas responsáveis pelo manuscrito, nele não indicaram a música de todos os carmes, de modo que só foi possível reconstruir o andamento melódico de 47 deles. O códex é subdividido em seis partes:
-Carmina moralia et satirica (1-55), de caráter satírico e moral;
-Carmina veris et amoris (56-186), cantos primaveris e de amor;
-Carmina lusorum et potatorum (187-228), cantos orgiásticos e festivos;
-Carmina divina, de conteúdo moralístico-sacro (parte que provavelmente foi adicionada já no início do século XIV).
-Ludi, jogos religiosos.
-Supplementum, suplemento com diferentes versões dos carmina.
Os textos são muito diferentes entre si e mostram a diversidade da produção goliardesca. Se, de um lado, há os conhecidos hinos orgiásticos, as canções de amor de alto conteúdo erótico e as paródias blasfemas da liturgia, de outro emergem a recusa moralística da riqueza e a veemente condenação à Cúria Romana, por ser voltada apenas à busca do poder. Assim diz o carme n°. 10:
A morte agora reina sobre os prelados que não querem administrar os sacramentos sem obter recompensas (...) São ladrões, não apóstolos, e destroem a lei do Senhor.
E o carme n°. 11:
Sobre a terra nestes tempos, o dinheiro é rei absoluto (...) A venal cúria papal é cada vez mais ávida dele. Ele impera nas celas dos abades e a multidão de priores, com as suas capas negras, só a ele louva.
Os versos mostram que os chamados clerici vagantes não se dedicavam somente ao vício, mas que se inseriam entre os adversários do crescente mundanismo da Igreja e da conformação monárquica do Papado, ao mesmo tempo que defendiam uma ideologia progressista, distante da clausura da vida monástica.
Além disso, a variedade de conteúdos do manuscrito é também indiscutivelmente atribuída ao fato de que os vários carmina tenham autores diferentes, cada um com seu próprio caráter, as próprias inclinações e provavelmente a própria ideologia, não se tratando de um movimento cultural literário compacto e homogêneo no sentido moderno do termo.
Os textos originais são entremeados por notas morais e didáticas, como se usava no primeiro Medievo, e a variedade dos assuntos - especialmente de natureza religiosa e amorosa, mas também profana e licenciosa - e de línguas adotadas, expressa o estilo de vida e o pensamento dos autores, os clerici vagantes ou goliardos, que costumavam deslocar-se pelas várias universidades europeias nascentes, assimilando-lhes o espírito mais concreto e terreno.
A cantata
O compositor alemão Carl Orff musicou alguns dos Carmina Burana, compondo uma cantata homônima. Com o subtítulo "Cantiones profanae cantoribus et choris cantandae", a obra, por suas características, pode ser definida também como uma "cantata cênica". Estreou em junho de 1937, em Frankfurt e faz parte da trilogia "Trionfi" que Orff compôs em diferentes períodos, e que compreende os "Catulli carmina" (1943) e o "Trionfo di Afrodite" (1952).
A cantata é emoldurada por um símbolo da Antiguidade — a roda da fortuna, eternamente girando, trazendo alternadamente boa e má sorte. É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança, mas não apresenta uma trama precisa.
Orff optou por compor uma música inteiramente nova, embora no manuscrito original existissem alguns traços musicais para alguns trechos. Requer três solistas (uma soprano, um tenor e um barítono), dois coros (um dos quais de vozes brancas), pantomimos, bailarinos e uma grande orquestra (Orff compôs também uma segunda versão, na qual a orquestra é substituída por dois pianos e percussão).
A obra é estruturada em prólogo e duas partes. No prólogo há uma invocação à deusa Fortuna na qual desfilam vários personagens emblemáticos dos vários destinos individuais. Na primeira parte se celebra o encontro do Homem com a Natureza, particularmente o despertar da primavera - "Veris laeta facies" ou a alegria da primavera. Na segunda, "In taberna", preponderam os cantos goliardescos que celebram as maravilhas do vinho e do amor(“Amor volat undique”), culminando com o coro de glorificação da bela jovem ("Ave, formosissima"). No final, repete-se o coro de invocação à Fortuna ("O Fortuna, velut luna”).
________________________________________
Carmina Burana - O Fortuna, Imperatrix Mundi
Em latim
Em português
O Fortuna, Ó Sorte,
Velut Luna És como a Lua
Statu variabilis, Mutável,
Semper crescis Sempre aumentas
Aut decrescis; Ou diminuis;
Vita detestabilis A detestável vida
Nunc obdurat Ora oprime
Et tunc curat E ora cura
Ludo mentis aciem, Para brincar com a mente;
Egestatem, Miséria,
Potestatem Poder,
Dissolvit ut glaciem. Ela os funde como gelo.
Sors immanis Sorte imensa
Et inanis, E vazia,
Rota tu volubilis Tu, roda volúvel
Status malus, És má,
Vana salus Vã é a felicidade
Semper dissolubilis, Sempre dissolúvel,
Obumbrata Nebulosa
Et velata E velada
Michi quoque niteris; Também a mim contagias;
Nunc per ludum Agora por brincadeira
Dorsum nudum O dorso nu
Fero tui sceleris. Entrego à tua perversidade.
Sors salutis A sorte na saúde
Et virtutis E virtude
Michi nunc contraria Agora me é contrária.
Est affectus Dá
Et defectus E tira
Semper in angaria. Mantendo sempre escravizado
Hac in hora Nesta hora
Sine mora Sem demora
Corde pulsum tangite; Tange a corda vibrante;
Quod per sortem Porque a sorte
Sternit fortem, Abate o forte,
Mecum omnes plangite! Chorai todos comigo!
• - Fortuna é um falso cognato em latim para o português. Fortuna=Sorte, Fortunae=Riqueza Material.
Bibliografia
• Piervittorio Rossi (org) Carmina Burana. Texto latino a fronte, Milano, Bompiani, 1989.