Janela d´alma

Se os seus olhos são a janela d´alma

quisera eu habitar a sua casa,

pois o que vejo nos olhos seus são espessas cortinas

cujo interior feito de vidro o tempo contempla e vigia

enquanto toma o seu café gelado.

O lar está abandonado

e como dois de nós frente ao espelho

sempre que nos vimos uma barreira nos separa

um do outro do toque da solidão...

mas é tudo pura ilusão.

Quando a luz te trouxe aos olhos meus

percebi que meus olhos já não eram mais meus

pois então lhes pertenciam e os roubaste

sem ao menos dizer obrigado.

E mesmo assim, esconde-se de mim e de todos

e ao me ver em seu espelho d´alma

sei que não nos pertencemos.

Como vamos nos encontrar

se o que nos separa é o mundo visto de uma janela?

Será só o tempo o que nos une?

Como me verá

se sou apenas mais um vulto projetado na sua parede sem vida opaca.

Quem sabe no dia que chover

e ao ler aconchegada mais um livro lido perto da lareira tomando café

perceberá que tudo está tão frio e desolado.

Que suas lembranças estão guardadas em retratos emoldurados.

Seu animal de estimação agora é recordação.

Quem sabe assim limpará a sua visão

e abrirá a sua janela para admirar o dia de uma nova vida

que renasce das cinzas.

Consertará os estragos causados e sentidos.

Colará os seus pedaços em cacos transformados

e verá que nem tudo está perdido.

Na janela d´alma verei os seus olhos seus

e você os meus

e perceberá que sou seu vizinho...

e que não está sozinha.

Só assim,

só assim

não estaremos mais sozinhos.

Victor Ricardo
Enviado por Victor Ricardo em 20/12/2012
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