CHÃO DE ESTRELAS
CHÃO DE ESTRELAS
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de doirado,
Palhaço das perdidas ilusões.
Cheio dos guizos falsos da alegria,
Andei cantando a minha fantasia,
Entre as palmas febris dos corações.
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje quando do sol a claridade
Forra o meu barracão sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou.
Nossas roupas comuns dependuradas,
Nas cordas qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional.
A porta do barraco era sem trinco,
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão,
Tu pisavas nos astros distraída,
Sem saber que a ventura desta vida,
É a cabrocha,o luar e o violão.
OBS.: Manuel Bandeira considerava o verso TU PISAVAS NOS ASTROS
DISTRAÍDA, como um dos mais belos ou o mais belo da poesia brasileira.