CHÃO DE ESTRELAS

CHÃO DE ESTRELAS

Minha vida era um palco iluminado

Eu vivia vestido de doirado,

Palhaço das perdidas ilusões.

Cheio dos guizos falsos da alegria,

Andei cantando a minha fantasia,

Entre as palmas febris dos corações.

Meu barracão no morro do Salgueiro

Tinha o cantar alegre de um viveiro

Foste a sonoridade que acabou

E hoje quando do sol a claridade

Forra o meu barracão sinto saudade

Da mulher pomba-rola que voou.

Nossas roupas comuns dependuradas,

Nas cordas qual bandeiras agitadas

Pareciam um estranho festival

Festa dos nossos trapos coloridos

A mostrar que nos morros mal vestidos

É sempre feriado nacional.

A porta do barraco era sem trinco,

Mas a lua furando nosso zinco

Salpicava de estrelas nosso chão,

Tu pisavas nos astros distraída,

Sem saber que a ventura desta vida,

É a cabrocha,o luar e o violão.

OBS.: Manuel Bandeira considerava o verso TU PISAVAS NOS ASTROS

DISTRAÍDA, como um dos mais belos ou o mais belo da poesia brasileira.

Orestes Barbosa
Enviado por Antonio Tavares de Lima em 05/12/2012
Reeditado em 21/03/2014
Código do texto: T4021004
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